Há um remoto parentesco entre a prisão de Paulo Maluf e o julgamento de Saddam Hussein, que chegou a começar ontem. Claro que não há qualquer semelhança entre os crimes de que ambos são acusados. O parentesco se dá apenas no ambiente que cerca a prisão de Maluf e o julgamento de Saddam Hussein, ambos longamente aguardados por seus opositores. Quando uma e o outro finalmente acontecem, vale, ao menos para o iraquiano, o que escreveu John Burns para o "New York Times": "O que deveria ser um momento de triunfo para suas vítimas está, ao contrário, provocando inquietações sobre a justiça e sobre a competência da própria Corte". Já no caso do político brasileiro, o que aguou o "momento de triunfo" está sendo o fato de que Maluf é preso na hora em que dezenas de outros políticos, a maioria de oposição a ele durante toda a vida, são réus confessos de delitos graves (caixa dois, no mínimo) e, provavelmente, beneficiários de esquemas de maracutaia com dinheiro público. Fique claro que o fato de o julgamento de Saddam estar sob suspeição não significa minimizar os crimes por ele cometidos. Da mesma forma, o fato de a invasão norte-americana estar carregada de vícios e também de crimes não transforma Saddam Hussein em vítima ou em herói anti-imperialista. Delinqüente é delinqüente, goste-se ou não do país que o depôs e prendeu. Vale o mesmo para Maluf: o fato de o PT, o partido que mais virulentamente o acusou, estar enlameado até a raiz dos cabelos não faz do ex-prefeito um santo. Mas reduz o impacto de ver finalmente presa uma figura graúda acusada de corrupção. Ou, posto de outra forma, depor e prender Saddam não trouxe a felicidade nacional bruta ao Iraque. Prender Maluf tampouco mudou a percepção de corrupção no Brasil, até porque surgiram outros símbolos do trambique, antigos inimigos, hoje aliados do partido de Maluf. @ - crossi@uol.com.br |