sábado, outubro 15, 2005

CLÓVIS ROSSI Desgastes

 SALAMANCA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ter chances até razoáveis de ganhar as eleições do ano que vem, caso se recandidate, apesar da crise. Não pelas razões que vêm sendo esgrimidas, entre elas a de que a crise se esgotou e o prestígio do presidente sobreviveu a ela.
Primeiro, ninguém pode afirmar que a crise de fato tenha se esgotado. O manancial de documentos ainda em mãos das CPIs não oferece segurança quanto ao que dizem ou contra quem dizem algo.
Segundo, a crise já sangrou profundamente Lula. Há seis meses, pouco mais ou pouco menos, só alucinados diriam que Lula não ganharia a eleição de 2006 no primeiro turno. Há três meses, ainda elegia-se, mas no segundo turno. Hoje, José Serra já supera o presidente ou empata com ele em praticamente todas as pesquisas para o segundo turno.
O fato que me faz desconfiar de que Lula tenha mais chances do que apontaria o sentido comum está dado pela comparação com outros mandatários. Faz ano e meio, José Luis Rodríguez Zapatero elegeu-se presidente do governo espanhol em meio à reação do eleitorado contra a manipulação pelo governo da época das informações sobre os atentados aos trens de Madri.
É um jovem político contra o qual não pesam suspeitas de corrupção. No entanto foi vaiado quarta-feira, no desfile do dia nacional espanhol. Ontem, ao dirigir-se para o jantar da Cúpula Ibero-americana, o carro com a bandeira da Espanha recebeu gritos de "fuera, fuera" de um público de cidade pequena, para o qual governantes, sejam quais forem, costumam ser uma atração turística.
Zapatero é apontado como corresponsável pela aprovação do Estatuto da Catalunha, que a qualifica como "nação", para suprema irritação do resto da Espanha.
Some-se o caso Bush, reeleito há apenas um ano, e tem-se um cenário de muito rápido desgaste dos governantes, em tempos em que tudo é rápido. Menos o desgaste de Lula.