o globo
Começa hoje o último quadrimestre e os economistas ainda estão inseguros sobre o que é o ano de 2005. As projeções de crescimento foram revistas algumas vezes e serão novamente nas próximas semanas. Desta vez, para melhor. O crescimento do PIB no segundo trimestre foi uma injeção de ânimo, porque o investimento voltou a crescer. Mas o consumidor está ficando mais pessimista.
Durante o ano, o ânimo mudou várias vezes. Em janeiro, parecia ser um jogo vitorioso nos primeiros minutos do primeiro tempo. A escalada das taxas de juros, que havia começado em setembro de 2004, reduziu o otimismo; os péssimos números do PIB no primeiro trimestre provocaram uma onda de revisão para baixo da previsão de crescimento. O mercado projetava 4% ou mais e caiu para 3%, mas muitos bancos e consultorias fizeram previsões bem abaixo disso. Agora deve começar um momento de revisão para cima. O primeiro a fazer isso será o Ipea que, na terça-feira, deve elevar sua previsão que hoje está em 2,8%; ficando mais próximo do número do Banco Central, que é 3,4%.
Crescer 3,4% é bom ou ruim? Depende. O mundo vai crescer 4,2%; o México vai crescer 3,7%; o Uruguai, 6%; o Chile, 5,7%; a Venezuela, 5,6%; e a Argentina, 7,3%. Ou seja, estamos crescendo menos que os vizinhos e que a média do mundo. Por outro lado, crescer 3,4% com juros reais de 12% a 14% e no meio de um furacão político é um excelente desempenho.
A maioria dos economistas acha que o PIB do segundo trimestre foi bom, mas haverá uma desaceleração nos próximos dois trimestres. É o que pensa a Tendências.
— Achávamos que o crescimento do segundo trimestre seria mesmo de 1,4%, mas acreditamos que vai desacelerar no terceiro trimestre para 0,5% e, depois, no quarto trimestre, fica em 0,9% — diz Roberto Padovani.
Nilson Teixeira, do CSFB, que desde a divulgação do número ruim do PIB no primeiro trimestre acreditava que o segundo trimestre mostraria uma forte recuperação, acha que nos próximos dois trimestres a economia vai desacelerar, mas não muito. Ele previa que haveria um aumento da compra de aço pela construção civil, porque esse item caiu muito no primeiro trimestre.
Paulo Levy, diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea, afirma que os dados ruins do primeiro trimestre refletiam a desaceleração temporária que houve no fim de 2004, mas o crescimento do segundo trimestre não será mantido no mesmo nível nos próximos dois trimestres. De qualquer maneira, está otimista:
— O ano vai ser melhor que o esperado, a indústria manteve o ritmo, a agropecuária enfrentou uma forte quebra de safra e se recuperou, a economia mundial veio forte e ajudou.
Ontem foi divulgado também um dado ruim: o consumidor está ficando mais pessimista exatamente na hora de começar as encomendas para o Natal. A Sondagem de Expectativas do Consumidor divulgada pela FGV mostrou um aumento de 37,3% para 39,9% dos que vêem piora na economia nos últimos seis meses. E vêem melhora apenas 9,5% dos entrevistados. Os que avaliam — sem contar o tempo — como boa a situação econômica são apenas 6,1% e o número dos que a consideram ruim saiu de 52,6% para 57,1%. Porém, possivelmente por causa das novas modalidades de crédito, o dado positivo disse respeito aos consumidores endividados: caíram de 30,4% para 28,3%. Mas os piores dados são quanto ao futuro. Segundo o texto, "Os prognósticos feitos em relação à situação econômica do país e da família são os piores da série histórica da pesquisa". Apenas 25,6% dos entrevistados — contra 29,6% em julho — acham que a situação econômica melhorará. E acham que piorará 24% dos participantes da sondagem.
Isso significa que as vendas do comércio vão cair nos próximos meses. Mas Paulo Levy acha que não:
— O indicador é novo, a gente não consegue ainda estabelecer uma relação direta entre a expectativa do consumidor e as vendas do comércio nos meses seguintes. Ainda não se pode dizer que seja uma antecipação das tendências de consumo.
Alguns indicadores ainda estão em construção, o país muda freqüentemente de humor e há fatos novos mudando completamente o quadro econômico; é por isso que, mesmo na reta final de 2005, ainda é complicado dizer como será o ano.
— É difícil dizer exatamente como vai terminar este ano, porque a economia brasileira é muito volátil, tudo flutua muito; e há ainda a crise política. É difícil acreditar que, diante de tanta crise política, os consumidores não fiquem mais pessimistas — comenta Nilson Teixeira.
A crise produz fatos diariamente. Ontem o Congresso derrubou dois vetos do presidente. Não é o aumento do gasto com o reajuste dos funcionários do Congresso que preocupa, mas, sim, o fato de que o governo mostrou a fragilidade da sua base parlamentar e o Congresso, mesmo na berlinda, mobiliza-se para aprovar aumentos para seus funcionários.
Olhando além do dia-a-dia, há notícia boa na economia. Padovani acha que o país já está num ambiente de crescimento sustentado, precisa apenas acelerar o passo:
— O país cresceu o ano passado, cresce este ano, e no próximo também. O problema é que é em taxas bem mais baixas que os outros países com os quais ele compete e se compara.