Por mais que a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, se esforce em convencer a sociedade de que, desta vez, o governo Lula tem um plano de obras para a área de infra-estrutura, é difícil não interpretar esse plano como mais uma tentativa de vender uma ilusão, de natureza meramente eleitoreira. O plano, conforme declarou a ministra ao jornal Valor, contém obras que deverão ser inauguradas ou estar em avançado estágio de execução até o fim do mandato do presidente Lula, em dezembro de 2006. É possível que uma ou outra dessas obras registre algum avanço até lá, mas as mais importantes delas, se tiverem saído do papel, quando muito estarão ainda nos prolegômenos. Há um problema de tempo e de falta de estudos sérios. Como imaginar que um projeto polêmico como o da transposição das águas do Rio São Francisco, uma das prioridades do plano da ministra, supere os problemas decorrentes de suas dimensões, custos e dificuldades técnicas e ambientais tão rapidamente a ponto de estar em avançado estágio de execução daqui a 15 meses? Felizmente, isso não será possível. A mesma pergunta se faz no caso da Ferrovia Transnordestina, outra obra da lista. É um projeto do início da década passada, e que estava emperrado. Estava à espera de alguém disposto a retomá-lo. E o governo Lula o fez. O início das obras deve ser anunciado pelo presidente no início de outubro. Será um ato de indiscutível efeito político, visto que a ferrovia se estende de Pernambuco ao Ceará. O projeto prevê a recuperação e a reconstrução de 1.932 quilômetros de linhas, além da construção de mais 532 quilômetros. Entre o anúncio da obra e um avanço para que se torne visível, porém, há uma enorme distância impossível de ser percorrida em pouco mais de um ano. Da mesma forma é impossível que a sempre prometida pavimentação da BR 162, entre Cuiabá e Santarém, que até agora não avançou um centímetro, esteja prestes a ser entregue até o fim do ano que vem. Outro problema que lança sérias dúvidas sobre a consistência do programa é a competência técnica do governo Lula para executá-lo. O governo gastou três anos para diagnosticar os problemas de infra-estrutura e de logística do País e propor soluções. Tendo demonstrado tanta incapacidade, é pouco provável que, em apenas um ano, seja capaz de colocar em prática, de maneira plena, ou quase, um plano desses. Não que o Brasil não necessite de obras. Necessita, e muito. Um exemplo da precariedade da malha de transportes está na reportagem publicada domingo pelo Estado mostrando a situação do transporte de mercadorias de Porto Velho a Manaus pela Hidrovia do Rio Madeira. É a principal via de abastecimento da capital do Amazonas, mas está praticamente interrompida. A falta de chuvas e a redução do fluxo proveniente do degelo dos Andes bolivianos fez a lâmina de água baixar de 16 metros para 1,6 metro em certos trechos. Se, porém, o governo fizesse a dragagem regular em pontos de assoreamento, o problema seria menos grave. Além disso, se mantivesse em condições de uso a ligação por terra entre Porto Velho e Manaus, haveria uma alternativa ao transporte hidroviário. Mas a ligação está abandonada. É irônico que uma das obras incluídas no plano coordenado pela ministra Dilma Rousseff, o gasoduto que interligará Coari a Manaus – "obra muito importante porque dá a possibilidade de colocar gás no centro do pólo industrial de Manaus, que cresce a 20%" (ao ano), justifica a ministra –, depende da Hidrovia do Rio Madeira, pois é por ela que a tubulação está sendo transportada. Na entrevista, a ministra Dilma Rousseff faz críticas veladas à única coisa do governo que funciona – a política econômica conduzida pelo ministro Antonio Palocci, que tem assegurado a estabilidade e, assim, sustentado o crescimento –, ao observar que "tudo pode ser aperfeiçoado" e dizer que "a variável fundamental que vamos perseguir é o crescimento econômico". É outra ilusão que ela tenta vender, a de que o rigor fiscal e monetário retarda o crescimento, razão pela qual o desenvolvimento exige mudança na política de Palocci. O que retarda o crescimento é a total incapacidade do governo de transformar a retórica em ação eficiente.
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