sexta-feira, agosto 26, 2005

Lucia Hippolito:Amor bandido

BLOG NOBLAT

 

"A convocação do doleiro Toninho da Barcelona para depor na CPI dos Bingos parece que despertou os brios da CPI dos Correios, que finalmente decidiu também convocar o doleiro.

 

A briga de foice entre governistas e oposicionistas estava paralisando a CPI dos Correios. O presidente, senador Delcídio Amaral, estava sob fogo cerrado da oposição, acusado de não dar aos trabalhos a agilidade dos primeiros dias.

 

Tudo fruto, segundo a expressão feliz da senadora Heloísa Helena, deste "caso de amor mal resolvido entre petistas e tucanos".

 

Realmente, é feroz a luta pelo poder entre PT e PSDB, que tem como ponto de partida e objetivo final a conquista do espaço político de São Paulo.

 

Trata-se de uma guerra paulista. E os paulistas fazem política disputando quarteirão a quarteirão. Petistas e tucanos não deixam espaço para mais nada e para mais ninguém.


É compreensível, tendo em vista o imenso peso econômico de São Paulo na federação brasileira. É disputa de poder, e das bravas.

 

Mas a tentativa de exportar este padrão de disputa paulista não encontra amparo na dinâmica política da maior parte dos estados brasileiros.

 

Afinal, como sabemos, a lógica da política estadual é muito forte. Assim, no Rio de Janeiro, a disputa principal é entre o PMDB de Moreira Franco e Garotinho e o PFL de César Maia. Em Pernambuco, disputam PMDB, PFL e PT. Na Bahia, PFL e PT. No Ceará, PSDB e PT. E assim por diante.

 

A guerra paulista entre petistas e tucanos contaminou a discussão política no país. Tudo o que petistas amam, tucanos odeiam. Tudo o que tucanos propõem, petistas recusam.

 

Na CPI, cada conta do PT no exterior que aparece nas investigações é imediatamente comparada a uma outra conta do PSDB que os petistas descobrem não-sei-onde.

 

Se aparece um doleiro que prestava serviços aos petistas, é preciso descobrir rapidinho um doleiro dos tucanos, senão a coisa não anda.


E assim, petistas e tucanos vão alegremente levando o Brasil para o impasse político. Para eles, nada parece ter importância, nem mesmo o país, diante do prêmio maior que é São Paulo, e da emoção maior, que é continuar vivendo este amor bandido.

 

O país que aguarde o fim dessa história."