FOLHA DE S PAULO
É bastante sugestivo da moralidade dominante, não só na política, que o primeiro a ter pedida a sua cassação seja quem denunciou a imoralidade e apontou alguns dos seus praticantes na Câmara e no governo. O processo contra o deputado Roberto Jefferson andou depressa, prova de que em alguma parte das quatro comissões que conduzem inquéritos houve eficiência. Mas a CPI dos Correios argumenta, em sua defesa, que ainda nesta semana estarão encaminhados outros 18 ou 19 pedidos de cassação.
Não há por que duvidar, mas há o que lamentar. O lote de propostas cassadoras não responde à finalidade da CPI. Atende às críticas que se avolumam ao seu desempenho. Cassações aparentam resultados sem, no entanto, sequer explicar o mecanismo que permitiu as improbidades praticadas. E para desvendá-lo, em tudo o que esconde sob a farsa dos empréstimos, é que a CPI foi constituída. Cassações seriam conseqüências desse alcance. Tornam-se, porém, um meio de dar satisfações à sociedade insatisfeita.
A oposição não tem autoridade para criticar o presidente da CPI dos Correios, o petista (mais por matrícula) Delcídio Amaral, porque o exibicionismo e o despreparo dos representantes oposicionistas, quase todos, estão entre os fatores de deformação e improdutividade dos trabalhos. Nem por isso a crítica é de todo descabida.
O senador Delcídio Amaral tem sido pouco rigoroso em vários sentidos, dos quais alguns são muito prejudiciais à CPI. Caso, por exemplo, da brandura de suas cobranças ao suspeito atraso de informações corretas e completas pelas instituições oficiais solicitadas. Convocações despropositadas para inquirição parecem-se mais com manobras, para empurrar o tempo, do que sugerem investigação. Presidir CPI não pode ser atividade burocrática.
O que se passa na CPI do Mensalão não é muito diferente. A falta de objetividade é equivalente, a desordem é igual, o relator Abi-Ackel está tão mal abastecido pelo conjunto da comissão quanto o está, na dos Correios, o relator Osmar Serraglio.
Com grande atraso, nesta semana chegam às CPIs os fundos de pensão de algumas estatais. Pode faltar inquiridor habilitado ou disposto, mas a quantidade de material suscetível de inquirição é de dar inveja a Marcos Valério e Delúbio Soares. O que tanto é oportunidade para as CPIs avançarem, como um risco de mais se desgastarem.
Fora do lugar
Tarso Genro não integrava o dispositivo que se impôs ao PT. Logo, não tinha condições de encabeçar a chapa eleitoral desse dispositivo que, apesar de um ou outro afastamento pró-forma, está intacto e fechado como cúpula partidária. Ricardo Berzoini tem inimizades, mas é do grupo e conta com o aval verdadeiro de Lula.
Refundação, correção de rumo e que tais não são idéias admitidas pelos que controlam o PT há dez anos. O continuísmo não contaminou a cúpula petista só em relação à política econômica.