Folha de S Paulo
BRASÍLIA - Há uma operação indisfarçável de todos os partidos para proteger o presidente da República. Os deputados do baixo clero lutam freneticamente para salvar a pele da cassação. Uma pizza é possível.
Ainda assim, o descontrole e a falta de comando político no Congresso, a desagregação no PT e a solidão de várias personagens já torradas pelo escândalo podem levar a um desfecho sangrento.
O primeiro item desse roteiro do caos é a quase certa cassação do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) na frente dos demais. O petebista foi o autor das acusações iniciais, publicadas em três entrevistas a Renata Lo Prete, nesta Folha. Jefferson assumiu um crime -os R$ 4 milhões que diz ter recebido do caixa dois do PT.
Com Jefferson degolado sozinho, a chance de haver reações imprevistas sobe exponencialmente. O próprio petebista talvez reconsidere suas comportadas declarações a respeito de Lula e de outros grandes da República. Nesse mesmo cenário, um conjunto de homens-bomba continuará a descer para as profundezas da solidão e do desamparo. Há vários nessa condição. Até quando vão agüentar em silêncio? Impossível dizer.
Tome-se o caso de Rogério Buratti, o ex-amigo (sic) de Antonio Palocci, e a dita propina de R$ 50 mil mensais paga à Prefeitura de Ribeirão Preto. Pela versão burattiana da corrupção, o dinheiro era entregue ao PT nacional, em São Paulo. Palocci nega.
É fácil dirimir essa dúvida: basta colocar frente a frente Buratti e o ex-tesoureiro nacional do PT Delúbio Soares. É possível que Delúbio negue o recebimento. Buratti terá então de revelar para onde foi a propina -sob pena de ver sua reputação afundar mais no esgoto.
É numa hora dessas que as pessoas falam. Nos bastidores de Brasília e do PT, ouve-se muito mais do que tem sido apresentado às CPIs. Se a descoordenação continuar no Congresso, um dia tudo isso fica público.