FOLHA DE S PAULO
BRASÍLIA - Nem impeachment, nem renúncia, nem desistência da reeleição. Lula já bateu na mesa e está candidatíssimo em 2006, para o que der e vier. A crise no PT só corrobora essa decisão -ou intenção.
No melhor cenário, o novo "núcleo duro" do governo avalia que as denúncias são tantas e tão difusas que acabam se concentrando no Congresso, deixando Lula respirar. Em sendo assim, o pior da crise estaria passando e o governo teria chances de entrar em 2006 num quadro melhor, mais tranqüilo e com Lula em boas condições de disputa.
No cenário mais realista, a crise se arrastaria durante meses, com o Congresso, o PT e o próprio governo no banco dos réus das três CPIs. Mesmo assim, e diante de uma eleição dura, até sem chances, Lula iria para a campanha. Por um motivo maior: continuar sendo o "amálgama" do PT, especialmente agora, com o partido em frangalhos, e segurar os ânimos presidenciáveis na base aliada e entre os próprios petistas.
Assim de cabeça, já se pode dizer que o vice Alencar se move; Ciro Gomes está muy amigo, mas ninguém desconhece suas pretensões de chegar a presidente; o próprio Tarso Genro estava animado com a hipótese; Palocci tem a bomba-relógio Buratti, mas é um nome considerável.
Ontem, houve dois movimentos significativos no PT. Na cúpula, Genro desistiu de disputar a presidência efetiva do partido, abrindo uma saída honrosa para José Dirceu da chapa do Campo Majoritário (a tendência, moderada, de ambos). Nas bases, a saída do partido do senador Cristovam Buarque (DF) e do deputado federal André Costa (RJ). O temor é que estejam abrindo a tão temida porteira.
Temos hoje um governo sem partido e um partido sem governo. Mas o petismo é nada sem o "lulismo", e o "lulismo" precisa muito do petismo. Com ou sem amor, o destino dos dois parece entrelaçado até a morte.
Até segunda ordem (ou dependendo dos fatos...), Lula é candidato. Para ganhar ou para perder.