sexta-feira, agosto 26, 2005
ELIANE CANTANHÊDE :O passado e o futuro
BRASÍLIA - O presidente Lula disse ontem, com todas as letras, que não vai se matar, como Getúlio, nem renunciar, como Jânio, nem sofrer um golpe, como Jango. Não quis falar "sobre o mais recente": o impeachment de Collor.
Horas depois, no Congresso, José Dirceu usou um gesto que remete a Getúlio ao insistir numa conversa informal que vai ficar na chapa do Campo Majoritário ao Diretório Nacional do PT e lutar até o fim para salvar o mandato na Câmara.
Com o dedo indicador direito na têmpora, simulando um tiro na cabeça, Dirceu foi radical: "Sair da chapa? Só se eu me matar", disse. Em seguida, corrigiu: "Mas eu não sou disso. Vou lutar e vou viver mais uns 20 anos, vocês vão ver".
Lula e Dirceu, portanto, finalmente reconheceram, cada um a seu jeito e no seu canto, o tamanho da crise e a dramaticidade de sua própria condição dentro da crise. A reeleição parece impossível, Dirceu está na lona, o PT se debate para não afundar.
Enquanto isso... a economia resiste. E bem. Ontem foi um bom exemplo.
Na CPI dos Bingos, Rogério Buratti, braço-direito de Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto, repetia tudo o que já dissera a promotores em São Paulo: havia um esquema, sim, de tirar R$ 50 mil por mês de uma empresa de lixo para dar ao PT.
E, no PFL, o economista Cláudio Adilson fazia uma comparação importante. Em 13 de agosto, quando a revista "Veja" denunciou a propina dos Correios, o dólar estava em R$ 2,47, e o índice Bovespa, em 23.887. Em 3 de junho, na entrevista de Roberto Jefferson à Folha, em R$ 2,42 e 26.366, respectivamente. Em 24 de agosto, depois das denúncias de Buratti, R$ 2,43 e 26.656.
Provocação de Bornhausen, presidente do PFL: "O país vai sair da crise melhor do que entrou. O investidor está feliz da vida, porque vai se livrar de Lula e do PT em 2006".
Quem vai decidir os efeitos da crise e o futuro de todos (inclusive de Bornhausen e do PFL) é você, o eleitor.