Em entrevista publicada ontem por esta Folha o prefeito de São Paulo, José Serra, não deixou dúvida sobre o profundo interesse com que observa o quadro político nacional. Analista arguto, áspero em alguns momentos, discorreu sobre a crise de um ponto de vista alto o bastante para distanciá-lo da disputa política ordinária -mas não da evidência de que está atraído pela perspectiva de disputar a Presidência.
Falou ao jornal um político que, tendo se preparado para governar o país, foi derrotado por um adversário cuja gestão, além das evidentes fragilidades políticas e administrativas, provou-se contaminada por desvios e nociva ao fortalecimento da cultura republicana. Não precisaria ser candidato para ver com perplexidade e indignação a amplitude do descompromisso ético no PT. Esta também foi a reação de muitos militantes e intelectuais petistas, alguns dos quais já haviam deixado o partido antes do escândalo do "mensalão". É o caso do economista Francisco de Oliveira, que já apontara a articulação de uma nova "classe" de burocratas associados à gestão de fundos públicos -que o prefeito apelidou de "burguesia com dinheiro alheio".
O Serra candidato surgiu por inteiro quando, convidado a apontar o principal desafio do próximo presidente, não se furtou a sintetizar uma agenda de governo. Desta vez não pontificou sobre a saúde, mas passou receitas para a economia, as agências, o sistema político-eleitoral e a reforma da administração pública -sem se esquecer do Mercosul.
Obviamente, o prefeito não poderia deixar de lembrar que assumiu o compromisso de não renunciar à administração de São Paulo. Sobre isso, disse que "hoje" está ao lado dos que reprovariam a quebra da promessa. Seria impossível também ignorar a pré-candidatura do governador Geraldo Alckmin, embora Serra tenha preferido embuti-la numa genérica referência a "outras alternativas, conhecidas e boas".
Ficou, ao final, a evidência de que o embate entre Alckmin e Serra vai se acirrar. Há alguns meses, o governador despontava como franco favorito para ser o candidato do PSDB em 2006. Agora, tem em Serra um forte rival disposto a se recandidatar.
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