O ESTADO DE S PAULO
Seria apenas inútil não fosse também postiça ante a realidade dos fatos, essa tentativa do governo de fortalecer sua expectativa de poder - e, com ela, assegurar apoio político - alimentando versões de que o presidente Luiz Inácio da Silva examina ou deixa de examinar a possibilidade de concorrer à reeleição. Simplesmente porque na atual conjuntura esse é um tema que não depende da vontade presidencial. Não é uma questão de "querência", mas de "poderência". Se não reunir condições políticas de disputar, e não estiver disposto a correr alto risco de derrota, Lula não poderá fazê-lo, por mais que queira. Se antes da crise essa hipótese de sucesso já se configurava complicada, agora com mais razão faz sentido a avaliação de que o impacto da decepção - principalmente da classe média - com o modo petista de governar tornaria a campanha eleitoral em busca de um segundo mandato uma corrida de obstáculos difíceis de serem superados. A começar pelos motivos a serem apresentados ao eleitorado para convencê-lo a renovar o período do PT no governo. Semana passada o presidente interino do partido, Tarso Genro, respondeu a uma adolescente durante um debate que hoje não teria argumentos para justificar a reeleição. Isso por causa da crise e das denúncias de corrupção. Mas, se houvesse feitos realmente substanciais a serem apresentados, Tarso Genro poderia tê-los listado, ressalvando a necessidade apenas de superar o momento do escândalo com punições e correções de rumo no partido e no governo; a competência em outros campos compensaria, mais à frente, os malefícios do momento atual. Aliás, se houvesse eficácia reconhecida nos atributos de Lula e do PT para bem governar, eles estariam servindo já agora como contraponto, senão na avaliação popular, ao menos na estratégia do governo, que poderia contar com a boa performance do conjunto em sua defesa, descontando-se os desvios de conduta se configurados como casos isolados. Só que o problema reside exatamente no conjunto de uma obra construída sem projeto com começo, meio e fim, sustentada originalmente na tese difusa da esperança. E esta é mercadoria difícil de ser vendida duas vezes. Ainda mais com o mago dessa abstração, Duda Mendonça, fora de combate. Não bastasse, o PT está em frangalhos, os partidos aliados tão atingidos quanto, o PMDB no rumo da candidatura própria e a oposição com desempenho competitivo nas pesquisas. O cenário pode mudar? Sempre pode, mas não por questão de escolha. Desmonte Os integrantes da Comissão de Ética Pública, encarregada de nortear e fiscalizar a conduta de ministros e altos funcionários da administração federal, estão convencidos de que o colegiado está condenado à morte. Por inanição financeira. Dos R$ 700 mil previstos no orçamento para 2005, só foram liberados R$ 280 mil. Com isso, cancelaram-se uma série de atividades, entre as quais os seminários de avaliação. Para 2006, a comissão pediu verba de R$ 1 milhão, mas levou apenas R$ 280 mil. Se a proporção do corte for igual à deste ano, não serão liberados nem R$ 100 mil. Com menos de R$ 10 mil por mês, a comissão acha que é melhor abandonar o faz de conta e dar por encerrados os trabalhos de vez. De fachada O Conselho da República é outra instância relegada ao campo das irrelevâncias. A decisão de não convocar os conselheiros para debater a crise, como sugeriu recentemente a Ordem dos Advogados com o apoio do presidente interino do PT, Tarso Genro, foi baseada, segundo explicação do Planalto, na avaliação de que não é representativo o bastante. Criado para assessorar o presidente em momentos de dificuldades, o Conselho da República é composto pelo vice-presidente da República, os presidentes da Câmara e do Senado, os líderes da maioria e da minoria no Congresso, o ministro da Justiça e seis cidadãos com mandato de três anos - dois nomeados pelo presidente, dois eleitos pela Câmara e dois pelo Senado. Em abril de 2004, ao dar posse aos atuais conselheiros, Lula fez a seguinte afirmação: "Quando os conselheiros perceberem que existe um problema relevante para discutir no País, e o presidente não tomar a iniciativa de chamá-los, que chamem a atenção do presidente para convocar o Conselho." Opções Enquanto o PSDB concentra suas atenções eleitorais em dois pré-candidatos à Presidência da República - José Serra e Geraldo Alckmin -, o PFL começa agora em setembro a procurar novos horizontes para além da candidatura do prefeito do Rio de Janeiro, César Maia. O presidente do PFL, Jorge Bornhausen, defende a idéia de procurar nomes algo distantes da política, identificados com outros setores. Nesse critério, o ex-ministro Pratini de Moraes, ligado ao agronegócio, entra para o partido na próxima quinta-feira. Bornhausen está de olho também nos esportes, na cultura e na indústria.
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