sábado, agosto 27, 2005

Diogo Mainardi O bom de blog

VEJA

"Cesar Maia montou uma cadeia de
internautas para comentar, em tempo real,
a entrevista de Antonio Palocci na televisão.
Enquanto os jornalistas caíam em êxtase
diante do ministro da Fazenda, engolindo todas
as suas explicações, o blog de Cesar Maia
anunciava: 'Palocci acaba de mentir' "

Cesar Maia tem um blog. Os leitores de O Globo o acusam de dedicar mais tempo ao blog do que à prefeitura do Rio de Janeiro. Não foi o que aconteceu hoje. Ao longo do dia, ele já mandou apreender um lote de calcinhas com a imagem de Santo Expedito, atendendo à solicitação de um morador. E, atendendo à solicitação de outro morador, já mandou averiguar por que um fiscal da prefeitura interditou o Bar Getúlio no dia do aniversário da morte de Getúlio Vargas. Cesar Maia garante que só trabalha no blog fora do horário de expediente. Pena. No momento, ele tem muito mais utilidade como blogueiro do que como prefeito. Deveria bloguear o tempo todo. Santo Expedito pode esperar.

O blog foi inaugurado em 31 de julho. A idéia inicial era difundir, para o público em geral, os boletins que ele remetia diariamente a um grupinho de leitores, com comentários sobre matérias publicadas na imprensa. No último domingo, o blog mudou. Para provar que Palocci mentia, Cesar Maia fez o que a imprensa deixou de fazer: reproduziu um contrato milionário entre a prefeitura de Ribeirão Preto, na gestão Palocci, e a Leão& Leão, a empresa suspeita de pagar-lhe uma propina mensal de 50.000 reais. A cópia do contrato chegou a Cesar Maia por meio de um internauta de Ribeirão Preto. De lá para cá, o blog publicou muitos outros contratos comprometedores. Até eu encontrei um, de 1994, para as obras do conjunto habitacional Jardim Heitor Rigon, em que Palocci favoreceu a Leão& Leão, e foi condenado pelo Tribunal de Contas de São Paulo a uma multa de 150 Ufesp, prontamente saldada por ele.

Com a publicidade recebida pelo furo palocciano, o blog de Cesar Maia virou uma central de denúncias contra o governo federal. Um funcionário do fundo de pensão Previ forneceu-lhe informações sobre a Trevisan Associados, a empresa de auditoria metida em todas as encrencas do petismo, do caso Gtech à compra da produtora do filho de Lula, por parte da Telemar. Um morador de Belo Horizonte confidenciou-lhe os segredos de Carla, uma das recepcionistas de Jeany Corner, atual acompanhante de Rogério Buratti e, segundo ela, ex-acompanhante do próprio Palocci. Um espião infiltrado no Tribunal de Contas da União revelou-lhe detalhes sobre os gastos exorbitantes do casal Lula e Marisa com cartões de crédito corporativos.

A acusação contra Palocci acabou com o último engodo petista: o de que a corrupção foi fruto das alianças políticas de 2002. Na verdade, ela é muito mais antiga e abrangente. O petismo corrompeu todos os ambientes em que se instalou: a administração local, a igreja, o sindicato, o movimento social, a cultura, a escola. A imprensa também foi contaminada. A reação dos jornalistas à entrevista de Palocci foi mais uma prova de seu vexaminoso sectarismo. A morte do petismo será boa para o jornalismo. Será boa para todo mundo.