sexta-feira, julho 29, 2005

A ordem é cobrar os cobradores

Luiz Weiss

   
 

A Folha, o Globo e o Valor saíram hoje com editoriais denunciando o "abafão" que parece tomar corpo no Congresso desde que também o PSDB foi apanhado desfrutando dos bons serviços do megaoperador eleitoral Marcos Valério, nas eleições de 1998 em Minas. O Estado deve publicar algo na mesma linha neste fim de semana.

Ainda bem. Se o que ontem parecia ser apenas "duas fatias de pizza" [ver comentário abaixo] caminha para se transformar numa redonda tamanho familia – "um leve aroma de óregano", escreve hoje a colunista Dora Kramer – a imprensa tem que pôr a boca no mundo e bater pesado.

Foi o que fez a Folha, ao denunciar o "conluio da classe política para entregar alguns anéis e salvar os dedos – como é costumeiro no Brasil".

Foi o que fez o Globo, ao falar da "concertação" proposta pelo senador Jefferson Peres, em defesa da economia e da governança: "Mas é essencial que, pacto ou acordo, nada possa reduzir o rigor na investigação do escândalo e na punição dos culpados."

E foi o que fez o Valor, ao advertir: "Existe um número grande de parlamentares sob suspeição. São de todos os partidos, e para todos os envolvidos que a sociedade exige explicações e cobra punições".

Assim também, no Jornal Nacional de ontem, o comentarista Franklin Martins: "Entendimento não é sinônimo de pizza. Quem tiver culpa, soldado ou general, ligado a governo ou oposição, tem de ser punido. Nessa área não há acordão possível."

Mas sempre é possível que interesses econômicos casados com políticos dos dois lados da cerca entrem em cena com as mãos cheias de panos quentes, murmurando o equivalente ao famoso comentário do professor Delúbio à sugestão de que pusesse as contas do PT na Internet: "Transparência assim é demais."

Não seria a primeira vez que as grandes corporações que transacionam com o setor público e mantêm relações amigáveis com os seus titulares, quaisquer que sejam, iriam pressionar por uma maneirada, em nome – como sempre – da estabilidade econômica e política.

Para que a mídia mantenha o curso adotado, não importa o que puder vir pela frente – dadas as proporções presumíveis da fronda do abafão que se constitui — o leitor deve fazer o mesmo que o eleitor em relação aos políticos: bombardear jornais, revistas e emissoras com mensagens cobrando deles que continuem a cobrar do Congresso o fechamento da pizzaria que ali se está abrindo – em defesa da saúde política do país.


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