Folha de S Paulo
VICTOR RAMOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) baixou o tom de seus ataques ao governo federal, chegando a afirmar que "nunca nenhum de nós acusou o presidente Lula de nada". Disse ainda ser "totalmente precipitado" falar em impeachment.
Em entrevista coletiva realizada ontem pela manhã em São Paulo, durante a abertura do Fórum Paulista de Mudanças Climáticas Globais e de Biodiversidade, FHC cobrou a apuração das denúncias de irregularidades investigadas pela CPI dos Correios, mas afirmou que é preciso "separar o joio do trigo", inclusive dentro do PT, "porque não são todos que fizeram safadeza". Ele defendeu a política econômica do atual governo que, segundo FHC, teve o "bom senso" de seguir a sua política.
FHC deu as declarações após ter "driblado", em um primeiro momento, os jornalistas que cobriam o evento. Após ser combinado que haveria entrevista, FHC deixou o local dizendo que não faria declarações. Voltou após insistentes reclamações dos repórteres à sua assessoria. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
AZEREDO - Ao ser questionado sobre a reportagem publicada ontem por "O Globo" -que revela que um suposto esquema, semelhante ao "mensalão", teria ocorrido em 1998 durante a gestão do então governador mineiro Eduardo Azeredo- FHC disse: "Hoje, confesso que não li os jornais".
Sobre as denúncias, FHC procurou relativizar o caso, ao dizer que é preciso "analisar e, depois, discriminar. Isso é grave? Qual o grau de gravidade? Maior, menor? Está comprometendo sistemicamente? Tem responsabilidade política? É um fato que eu não conheço. Mas, se for fato, vamos examinar e colocar no contexto de outros fatos".
AMPLIAÇÃO DA CPI - Para FHC, a tentativa dos governistas de ampliar a CPI do Mensalão para o período de sua gestão -e para a compra de votos para a aprovação da emenda da reeleição- visa "tirar o foco" das atuais investigações.
"O foco não é esse. Esses são fatos passados há dez anos. Não houve nenhuma acusação de interferência nem minha nem dos ministros meus. Pode apurar à vontade, mas não tire o foco. O grave de hoje é haver algo sistemático, uma organização com apoio político de um partido. O próprio partido [PT] reconheceu, tanto que caiu toda a sua direção."
LULA - Durante suas afirmações, FHC procurou poupar o presidente Lula. Primeiro, ao negar que havia um acordo entre ele próprio e o senador Jorge Bornhausen (PFL-SC) para blindar Lula, numa tentativa de evitar que o vice-presidente José Alencar (PL) assumisse a Presidência.
"Não houve nenhuma combinação nesse sentido. Até porque, nunca, nenhum de nós acusou o presidente Lula de nada. Não temos por que especular o que vai acontecer com o vice-presidente."
Sobre a possibilidade de um processo de impeachment, FHC afirmou ser "totalmente precipitado" e que "não há razões para estar cogitando isso".
ECONOMIA - O ex-presidente defendeu a política econômica do governo, mas disse não ser possível prever até quando ela resistirá à crise. "É verdade que não há crise econômica. Os números do Brasil são bons. O governo Lula teve o bom senso de seguir a minha política. Mas até que ponto isso vai, não sei, não tenho bola de cristal. Os mercados sexta-feira e ontem [anteontem] reagiram nervosamente, apesar de que os dados globais eram bons."
CANDIDATO - Apesar das dificuldades que Lula vem enfrentando e que devem dificultar o cenário para a sua reeleição, FHC voltou a negar que possa ser o candidato tucano na próxima eleição. "Minha candidatura nunca foi lançada. Não tem uma palavra minha diferente do que eu sempre disse: não sou candidato. Temos bons candidatos no meu partido."
ELITES - FHC contestou a existência de um "complô das elites" para derrubar o governo, tese defendida por parte dos governistas e encampada por Lula ao dizer, em discurso, que não seria a elite que o faria baixar a cabeça.
"Pelo que eu saiba, as elites do Brasil torcem pelo presidente de uma maneira que poucas vezes vi na minha vida. Não quero falar sobre Lula. Eu imagino as dificuldades pelas quais ele deve estar passando. Sei o que é isso."
CAIXA DOIS - Sobre a suposta existência de caixa dois para o financiamento de campanhas nas siglas, inclusive no PSDB, FHC foi enfático: "Essa tese de que é generalizado é horrível. Não tem caixa dois coisa nenhuma. Tem de separar o joio do trigo. Não concordo nem dentro do PT, porque não são todos que fizeram safadeza."
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