O Globo |
20/6/2005 |
Estão se criando todas as condições para que a sucessão presidencial de 2006 seja a mais radicalizada desde a redemocratização. A popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apesar das denúncias de corrupção que pesam contra o governo, seus aliados e o PT, e a ausência de um candidato na oposição com perspectiva de poder contribuem para acirrar os ânimos e as paixões. O governo e a oposição vão travar um megaconfronto. Não há nada parecido na História recente. Em 1992, a CPI do PC, que investigou corrupção no governo Fernando Collor, levou ao impeachment do presidente da República. Em 1993, a CPI do Orçamento paralisou o Congresso e liquidou com a cúpula do principal partido na época, o PMDB. Em 2001, o duelo entre os senadores Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e Jader Barbalho (PMDB-PA) fragilizou o governo Fernando Henrique. Em 2005, de forma concentrada, os três ingredientes estarão em cena: a CPI dos Correios, investigando corrupção no governo Lula; a CPI do Mensalão, apurando relações impróprias entre partidos e parlamentares da base; e o embate entre os deputados Roberto Jefferson (RJ), presidente licenciado do PTB, e José Dirceu (PT-SP), ministro demissionário. O governo Lula quer confinar a crise ao Congresso (com a saída de Dirceu) e vai tentar isolar Jefferson no caso do mensalão. A oposição está determinada a chegar ao presidente e quer cortar a cabeça dos principais aliados do governo no Congresso. Como diz o deputado Moreira Franco (PMDB-RJ), a CPI do Mensalão começa onde terminou a CPI do PC: "o presidente sabia". Há ainda o fator PT, um partido estruturado e com militância, que decidiu levar a luta política às ruas. Neste contexto, são estreitos os espaços para a conciliação, como prega o governador do Acre, Jorge Viana. O acirramento político destas semanas indica ainda que a CPI do Mensalão deve ser o ponto nevrálgico da crise. Pela reação da opinião pública, não há espaço para se fazer uma pizza. A menos que se prove que o mensalão não existiu, cabeças vão rolar. As de quem recebeu, mas também as de quem mandou pagar. Jefferson quer companhia no paredão. E já elegeu seus alvos: Valdemar Costa Neto (PL-SP), Sandro Mabel (PL-GO), Pedro Correa (PP-PE), José Janene (PP-PR), Pedro Henry (PP-MT); e os petistas Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares, Sílvio Pereira e Marcelo Sereno. A oposição quer a cabeça da cúpula petista e destroçar os aliados do governo Lula e conta com o comportamento errático dos petistas para atingir seu objetivo. O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, conversou na semana passada com um antigo cliente, o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-AM). Advogou em defesa do governo. O secretário de Comunicação do Governo, Luiz Gushiken, foi o emissário do presidente Lula que pediu à direção do PT que fossem destituídos de suas funções o tesoureiro Delúbio Soares e o secretário-geral Sílvio Pereira. Preocupado em preservar o governo na crise, Gushiken fez esta recomendação ao presidente do PT, José Genoino. Delúbio e Sílvio, que foram mantidos em seus cargos, garantem que não estão magoados, acreditam que o ministro agiu assim por estratégia política e não por desconfiança. Aliás, Gushiken fez uma preleção, igual à de técnicos esportivos, antes do ato de demissão de José Dirceu. Um dos ministros, que estava no gabinete do chefe da Casa Civil, diz que foi mais ou menos assim: 'Minha gente, vamos lá! Todos de cabeça erguida! Todos de cara boa! O Zé Dirceu vai fazer um belo discurso e mostrar que o PT está unido. Vamos virar este jogo! Está claro!? Ok!' Após o anúncio, não havia ninguém com uma cara melhor do que a do ministro Gushiken, que exibiu um largo sorriso. Os planos do presidente Lula para a reforma ministerial incluem a demissão de cinco petistas. O presidente quer estes cargos para reforçar sua aliança com o PMDB, consolidar o apoio do PP e abrir mais espaço para nomes da sociedade. Desta vez, ao contrário do que ocorreu em fevereiro, as pressões pela manutenção de petistas têm poucas chances de prosperar. Depois que José Dirceu saiu, ninguém mais está seguro. Os petistas são contra a extinção da Coordenação Política. Querem que a função seja mantida como um elo entre o Planalto e a base aliada, mesmo que os líderes partidários assumam mais responsabilidades na articulação. O PT não quer apenas preservar a função, quer que ela seja ocupada por um político, sobretudo se a ministra Dilma Rousseff assumir a Casa Civil. O nome da vez é Jaques Wagner. FRASE do deputado Joaquim Francisco (PTB-PE) sobre a crise no governo Lula e em seu partido: "Os tempos mudaram e não percebemos. Fomos para uma festa de fome, fantasiados de coxinha". O FUTURO do ministro Aldo Rebelo foi acertado na sexta-feira numa longa conversa com o presidente Lula. |
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