BRASÍLIA - Com CPIs pipocando para todo lado e o "tratoraço" isolando a praça dos Três Poderes, o PMDB acaba de inventar uma nova modalidade de divisão: os governadores de um lado, contra o apoio ao Planalto, e as bancadas do Congresso do outro, a favor da "governabilidade".
Foi assim que o presidente do partido, Michel Temer, protocolou uma carta no Planalto agradecendo muito, alegando falta de unidade interna e dispensando os cargos. Enquanto isso, Renan Calheiros e José Sarney almoçavam com Lula para levar assinaturas das bancadas e dizer o oposto: agradecendo muito e... aceitando de bom grado os ministérios.
Temer falou em nome, por exemplo, dos sete governadores peemedebistas, endividados, irritados, desconfiados e contrários a ampliar a aliança com o governo. Já Renan e Sarney falaram em nome dos senadores e deputados, muitíssimo preocupados com a estabilidade do governo e do próprio país.
Em outras palavras: o governo não tem o apoio institucional do PMDB, mas tem o de suas bancadas no Congresso. A partir daí, é só o Planalto negociar com os governadores, um a um. Não está fácil, mas instrumentos não faltam, e Lula já está em ação.
Tudo se encaixa perfeitamente. O partido consegue o mínimo para ter os quatro ministérios que almeja e mantém um pé na oposição. Quer dizer: fica com as pastas e pronto para apoiar tanto Lula quanto um tucano em 2006. E com o discurso de candidatura própria. Brilhante.
Por ora, o acordo serve aos dois lados: o que interessa ao PMDB é garantir os cargos, e o que importa ao Planalto, desesperadamente, num momento de tantas CPIs e denúncias, não é apoio de governador, e sim maioria parlamentar. Isso, porém, não significa equilíbrio. Na verdade, quem está dando as cartas é o PMDB. O Planalto só corre atrás.
A união faz a força? Nem sempre. No caso do PMDB, é a divisão que faz a força. E garante mais ministérios.
quinta-feira, junho 30, 2005
ELIANE CANTANHÊDE:ELIANE CANTANHÊDE
folha de s paulo
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