O mercado não parece temer um segundo governo Lula. Indicação disso é a renovação dos títulos emitidos e das operações feitas pelos bancos que vão além de janeiro de 2007. Em relação ao México, empresários e mercado mexicanos estão ainda mais pessimistas que os economistas de bancos internacionais sobre um possível governo de esquerda, se o prefeito Andrés López Obrador for eleito.
O economista Ricardo Amorim, do WestLB, acha que o mercado externo está certo sobre o Brasil, mas pode estar subestimando os riscos em relação ao México.
— A visão da América Latina, diante de eleições em vários países, é que a região está entre dois modelos: a esquerda responsável de Lula e a populista de Hugo Chávez. Equador e Bolívia parecem estar indo para o segundo modelo. No Peru, há risco de que Alan García vá para segundo turno. A Argentina ninguém sabe o que é — diz.
A temporada de eleições começa neste dezembro com o Chile. Depois se seguem Peru, México, Colômbia, Brasil e Venezuela. A elite mexicana acha que López Obrador não deu ainda sinais confiáveis de que seguirá a linha Lula de manutenção de uma política econômica conservadora.
— O mercado internacional tende a olhar com tranqüilidade os indicadores econômicos mexicanos. Mas eu tenho dúvidas. Primeiro, porque a dívida/PIB do México é maior do que os 20% anunciados. Eles não contabilizam outras três dívidas que deveriam estar consolidadas na dívida pública. Se tudo for incluído, a dívida/PIB é de 41%. Eles são também superdependentes da economia americana, que pode enfrentar um período de crise em breve — afirma Amorim.
O que não se deve perder de vista, lembra Ricardo Amorim, é que 2004 foi “o ano perfeito”: maior crescimento mundial desde 76, preços das commodities no mais alto nível desde 80 e as mais baixas taxas de juros globais desde 60:
— O cenário de 2005 e 2006 continua bom, porém há riscos maiores de crises decorrentes dos déficits americanos e menor crescimento da Ásia. Pode haver um choque moderado nos EUA, que pode vir do aumento dos juros ou de uma pequena recessão.
De qualquer maneira, ele acha que o cenário continua favorável com o mundo ainda crescendo. E é nesse ambiente que se realizarão as seguintes eleições: Chile em dezembro de 2005; em 2006, Peru em abril, Colômbia em maio, México em julho, Brasil em outubro, Equador em outubro, Venezuela em dezembro; e, em 2007, a Argentina em abril.
Ricardo Amorim acha que os juros devem começar a cair em outubro, que o dólar permanecerá baixo, até porque, pelas suas contas, o real não está sobrevalorizado (e, sim, 16% desvalorizado em relação à média desde 1994), por isso aposta numa robusta balança comercial este ano de inéditos US$ 39 bilhões.
O economista não condena exatamente o Banco Central aqui pela alta de juros, mas explica por que não tem funcionado: em primeiro lugar, ficou a impressão, em quem retinha o dólar, de que ele voltaria a subir, por isso a queda não tem tido muito impacto nos preços, só agora voltou a acontecer; segundo, o crédito é muito concentrado e pequeno, em vez de a elevação dos juros afetar toda a economia, gera efeito riqueza para uma parcela pequena e a política monetária tem pouca capacidade de transmissão. O resultado é que os juros sobem sem que isso freie o consumo e derrube a inflação.
Para ele, o país não deveria ter reduzido, na prática, o superávit primário. Deveria, sim, ter aumentado, o que derrubaria a inflação e permitiria ao Brasil aproveitar melhor o bom momento econômico internacional.
Já os outros países da América Latina têm sido olhados pela comunidade financeira internacional com um pouco de cuidado, principalmente pela onda de rebeliões internas, como a da Bolívia, que podem afastar investidores. Em relação ao México, Amorim se diz mais preocupado que o mercado financeiro e menos preocupado que os empresários mexicanos: ele ainda não tem certeza de que o candidato de esquerda lá fará alguma declaração aos mexicanos antes da posse, antecipando a tendência da sua política econômica interna. Acha que o Chile tem melhores perspectivas que o México.
Na Venezuela, mais do que a verborragia antiamericana de Hugo Chávez, o que preocupa é o que o governo tem feito com a maior empresa venezuelana. A PDVSA tem investido cada vez menos e transferido cada vez mais para os cofres do governo, desperdiçando o excelente momento dos preços do petróleo
o globo
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