"O ministro José Dirceu virou uma espécie de Judas de sábado de Aleluia fora de época. Está sendo impiedosamente malhado por adversários e por aliados, antigos e novos.
Isto porque José Dirceu foi responsabilizado pela crise política e, sobretudo, moral que atingiu o coração do governo Lula.
José Dirceu é o principal responsável pela crise política? É, é sim, mas não é de hoje. O ministro cometeu um equívoco fatal na montagem do governo. Como principal estrategista político do governo Lula, José Dirceu é um completo fracasso.
A principal tática de Dirceu foi a engorda artificial das bancadas aliadas para construir uma maioria no Congresso, isto porque nas eleições de 2002 o eleitorado não deu ao PT maioria na Câmara e no Senado.
Quando aumentou a bancada do PTB, por exemplo, de 26 deputados para 40 antes mesmo da posse de Lula, José Dirceu tinha que saber que estava criando um monstro. Esta bancada não engordou assim pelos belos olhos do chefe da Casa Civil. Monstros precisam ser alimentados.
Assim também aconteceu com as bancadas do PL, do PSB, do PCdoB. Ideologia não enche barriga, e o ministro sabe disso. Prometeu, e não cumpriu. No mundo da fisiologia, prometer e não entregar é o pior dos pecados.
Mas José Dirceu, acostumado a dar ordens no PT e a comandar um aparelho partidário, achou que era espertíssimo e que ia dar a volta em fisiológicos históricos, acostumados a canibalizar o Estado brasileiro há décadas. José Dirceu achou que era o rei do caqui e fez papel de bobo. Coitado!
No primeiro ano do governo Lula, o talento do ministro José Dirceu para a articulação política foi cantado em prosa e verso. Mas um governo no primeiro ano aprova tudo. Não pelo talento de qualquer ministro, mas pela legitimidade dos milhões de votos que o presidente da República obteve nas urnas.
Nos anos seguintes, tudo fica mais difícil, e aí sim, aparece o talento dos articuladores políticos. Foi quando o ministro José Dirceu colheu os seus fracassos mais retumbantes.
Mas o pobre José Dirceu não deve ser crucificado sozinho. Boa parte da responsabilidade do fracasso deve ser debitada na conta pessoal do presidente Lula.
O ABC de uma política presidencial ensina que não se deve entregar a coordenação política ao chefe da Casa Civil. Isto porque qualquer crise é transferida imediatamente para dentro do Palácio do Planalto.
Qualquer presidente minimamente dotado para a política sabe que o coordenador político tem que ser um parlamentar ou um ministro com gabinete fora do Planalto.
Mas o presidente Lula acha que é um ser iluminado e destinado a reinventar o Brasil. Deu no que deu.
BLOG Ricardo Noblat
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