A secretária de Estado dos Estados Unidos, Condoleezza Rice, na última semana, deu uma injeção de ânimo aos brasileiros ao antever para o nosso país uma posição de destaque não só na América Latina mas em todo o mundo. O seu depoimento deve ter-se baseado em dados preparados pelos técnicos daquela secretaria que conhecem muito bem as potencialidades do Brasil.
Ao mesmo tempo, a imprensa internacional deu um grande destaque aos perigos do descontrole do déficit público dos Estados Unidos e da persistente elevação dos preços do petróleo e de outros bens, provocada, em grande parte, pela espantosa demanda imposta pela China.
Os Estados Unidos mantêm um déficit de 6% do PIB nas contas externas e de 5% nas contas internas. São cifras colossais que assustam os que têm de pensar a longo prazo. Isso afeta todas as economias, pois os americanos são os maiores produtores e os maiores compradores do planeta.
O ex-presidente do Banco Central dos Estados Unidos Paul Volker diz que, com esse nível de endividamento americano e com a crescente elevação dos preços da energia, em especial o do petróleo, "o mundo está patinando em cima de uma camada de gelo muito fina" que poderá romper-se a qualquer momento.
O catastrofismo nunca fez parte do pensamento de dirigentes ou de ex-dirigentes de bancos centrais. Trata-se, portanto, de um alerta a ser levado em séria consideração. O problema é que a solução do problema preocupa mais do que o problema em si, pois, se os Estados Unidos reduzirem drasticamente o consumo, a maior parte das economias do mundo entrará em colapso.
Esse é o paradoxo. A doença é aguda, mas o tratamento não pode ser de choque. O sucesso dependerá de uma sintonia fina e gradual das contas públicas dos Estados Unidos e de ajustes em outras economias importantes, em especial a chinesa. Oxalá as autoridades tenham serenidade para executar um plano desse tipo, que é mais artístico do que técnico.
E o Brasil, como fica nisso? É claro que uma aterrissagem abrupta constitui sério perigo para a nossa economia. Mas um ajuste gradual coloca o Brasil em posição mais confortável quando comparado com a maioria dos países. Isso porque uma grande parte de nossas exportações repousa no agrobusiness.
O mundo pode dispensar vários produtos em momentos de crise, mas não os alimentos. Essa é uma grande vantagem comparativa do Brasil. Nossa agricultura deu passos avançados nos últimos anos, tendo alcançado níveis de produtividade iguais ou superiores aos mais elevados do mundo.
Além disso, o Brasil dispõe ainda de muita terra, muita água e muito sol para continuar expandindo as áreas de produção e as exportações de alimentos. E, do ponto de vista energético, somos servidos por fontes renováveis menos poluentes. O que nos resta é trabalhar firme e fortalecer cada vez mais esses setores. Essa é a melhor decisão para tomarmos neste 1º de Maio.
FOLHA DE S.PAULO
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