terça-feira, abril 26, 2005

Lucia Hippolito: Eterno enquanto dure

"Começou ontem em todo o país a campanha de vacinação contra a gripe, que pretende imunizar mais de dez milhões de idosos até o dia 6 de maio. Muito provavelmente, o objetivo será atingido.
Porque isto é uma coisa que o Brasil sabe fazer há muito tempo. Campanhas de vacinação contra a varíola, a poliomielite, o sarampo são experiências em que o Brasil só tem colhido êxitos e reconhecimento mundial.
Outras iniciativas semelhantes, como as doações para a campanha do Natal sem Fome e as doações para socorrer as vítimas do tsunami no Sudeste Asiático, por exemplo, também encontram imediata e entusiástica adesão da sociedade brasileira.
Essas ações todas têm em comum sua curta duração. Atingem imediatamente todo o território nacional e têm prazo para começar e terminar.
Para um país das dimensões do Brasil, isto não é dizer pouca coisa, pois as dificuldades de logística são imensas, proporcionais ao tamanho do país. Mas tudo acontece como tem que ser. Não falta vacina nos postos, não falta saco plástico para receber doações, não falta transporte. Nem gente para dar conta disso tudo.
Mas quando se trata de problemas que exigem trabalho diário, permanente, rotineiro, aí o país fracassa. Vacinar a gente consegue, mas conservar os hospitais em bom estado de manutenção, com pessoal e estoques de medicamentos, é quase impossível.
Conseguimos construir Itaipu, mas não conseguimos manter uma rotina de conservação de estradas, limpeza de praças e bueiros, aquele trabalho de formiguinha, rotineiro, diário, que não tem fita de inauguração, não tem ministro nem prefeito, nem presidente da República, muito menos palanque.
Na política, todo governante que chega acha que tem que reinventar a roda, fazendo terra arrasada do trabalho dos antecessores.
Na educação, de 1961 para cá não se conseguiu formar uma única geração de brasileiros no mesmo sistema educacional. A lei anterior ainda não tinha sido suficientemente testada, e já era substituída por uma nova.
Tudo aquilo que exige paciência, insistência, estabilidade de regras e continuidade de procedimentos e objetivos parece estar acima da capacidade do país.
Mas não tem ninguém inocente nesta história. No Brasil, Estado e sociedade são igualmente responsáveis."

blig Ricardo Noblat

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