Lula precisa chamar os ministros José Dirceu e Luiz Fernando Furlan, para que lhe expliquem a posição do seu governo em relação à competição dos " softwares livres" com os " softwares proprietários".
Como diria o companheiro, assunto desgramado de chato. (Quem agüentar mais dois parágrafos chegará a uma tentativa de explicação.)
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio disse o seguinte:
"Parece estranho que um país que está avançando na produção de software , tendo um universo extraordinário de empresas pequenas e médias atuando, possa discriminar o software proprietário."
Estranho para quem, cara-pálida? O doutor Furlan é ministro de um governo que está brigando com a Microsoft para impor programas abertos, como o Linux, à administração pública e às máquinas do futuro programa PC Conectado, pelo qual os companheiros querem levar computadores à classe média baixa. (Ou pelo menos querem dar a Duda Mendonça a oportunidade de mostrar uma criança rindo diante do monitor durante a campanha do ano que vem.)
O software proprietário mais famoso e lucrativo do mundo é o Windows. Trata-se da caixa-preta que faz funcionar nove em cada dez computadores. O sujeito compra (ou aluga, no caso de empresas) sabendo que não pode mexer nos códigos do programa. O software livre (que é baixado de graça) ordena-se pelo caos. Cada um mexe no que quer, por sua conta e risco.
A agência Reuters e o Google rodam Linux. Oito em cada dez servidores de mensagens eletrônicas rodam o software livre BIND. Dois terços dos sítios da internet usam o Apache, grátis como chuva. A National Security Agency, certamente o negócio mais secreto do mundo, trabalha com programas abertos.
Falar em "software proprietário" ou " software livre" chega a ser impróprio. Em inglês esse fenômeno chama-se "Open Source", ou "fonte aberta". A enciclopédia eletrônica "Wikipedia", com 540 mil verbetes, é uma "fonte aberta". O freguês entra, lê e, se quiser, pode fazer acréscimos ou correções. É a ordem do caos e já superou a "Encyclopaedia Britannica" em número de consultas eletrônicas.
O comissário José Dirceu comanda uma operação destinada a colocar sistemas abertos nos computadores e na rede eletrônica da administração federal. Faz o que inúmeros governos fazem, inclusive nos Estados Unidos. Vai além: o Brasil foi o primeiro país do mundo a exigir que o dinheiro da Viúva seja usado só em pesquisas de fontes abertas.
Quando o doutor Furlan fala em "discriminar", mexe com uma outra operação do comissariado, que é uma velha e boa compra de equipamentos à custa da Viúva. No tucanato, falava-se em 450 mil computadores (e tinha petista achando que era maracutaia). Os companheiros falam em financiar um milhão de máquinas a pessoas de baixa renda, por R$ 50 mensais. Cada computador só operaria com o sistema Linux e, quem sabe, o OpenOffice. Custam zero. É disso que a Microsoft, Furlan e diversos empresários não estão gostando.
Toda vez que o Planalto faz compras para ajudar os pobres, engorda os ricos. É discutível que o governo deva sair por aí vendendo computadores quando ainda não fez o básico. Há sítios do governo federal onde só se pode baixar uma planilha com o programa Windows.
Se os doutores Furlan e Bill Gates querem ajudar o PC Conectado, podem criar uma fundação, oferecendo computadores baratos que rodem Windows a preço de banana. Há no mercado as máquinas AMD, vendidas na Índia a U$ 185. Eles vão ao governo, pedem os mesmos incentivos fiscais do programa oficial e a patuléia só tem a ganhar. Em vez de um milhão de computadores, vão aparecer dois milhões. O que não pode aparecer é um Cavalo de Tróia da Microsoft financiado com dinheiro da Boa Senhora. Até porque Bill Gates tem mais dinheiro que ela.
O GLOBO
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