Conhecida pelo nome de reforma do Ministério, a nova rodada de distribuição dos feudos a partir dos quais os partidos se organizam para manejar o aparato do Estado – seja para ganhar votos, seja para obter e propiciar vantagens – deve ser oficializada mesmo no início da próxima semana.
Já acontece tarde – desde novembro o Governo fala disso – e nasce velha. Ninguém espera nenhuma novidade, ainda mais que, desta vez, nem o presidente da República teve qualquer veleidade em passar à opinião pública a impressão de que escolheu ele mesmo os ministros e que fez isso preocupado com a capacidade deles de produzir bons resultados administrativos.
Terça-feira passada, por exemplo, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, já apresentava seu apaniguado, o deputado Ciro Nogueira, como o novo ministro do Governo Luiz Inácio da Silva, aos presentes na solenidade de comemoração dos 20 anos de regime civil.
Qual a pasta? Não importa, isso Severino ainda não dizia na festa porque não sabia. Apenas informava aos convidados que estava “tudo certo”, significando que conseguira emplacar o moço em algum lugar da Esplanada.
Para fazer o que, não interessa, desde que, como reza o lema vigente no partido de Severino, “a coisa seja bem recheada” e o PP possa tomar (de assalto?) conta da estrutura como um todo.
A briga pelo ministério das Comunicações, por exemplo,tinha como alvo o “recheio” da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.
Para implementar algum plano de aumento de eficiência nos Correios ou pôr em operação alguma idéia que o partido tenha para desenvolver a área de telecomunicações ou aplicar algum projeto que melhore os serviços nessa área?
Não, disso não se fala nem no PP nem em nenhum dos outros partidos envolvidos nessa partilha de lotes à qual convencionou-se dar o nome de reforma ministerial.
Muitos lugares já foram cogitados para a senadora Roseana Sarney. Falou-se nela para o Meio Ambiente, para o Planejamento, Integração Nacional e até a Coordenação Política.
Não obstante os inúmeros predicados que certamente tem a ex-governadora do Maranhão, ela não os reúne na quantidade e diversidade exigidas pela plêiade de funções nas quais, pela lógica da dita reforma, poderia sair-se muito bem.
Afinal, parece que a senadora vai, por escolha própria, para o Ministério das Cidades. E qual a justificativa da preferência?
É a pasta considera ideal para o grupo Sarney executar seu projeto de retormar o comando político no Maranhão, hoje nas mãos do governador adversário, José Reynaldo.
E assim, nessa mesma base, transcorrem as conversas sobre todas as substituições na equipe ministerial sem nenhuma preocupação de estabelecer relações entre a causa – a troca do ministro – e o efeito.
O caso da Coordenação Política segue a lógica. Desta vez para atender aos interesses do petismo paulista. Era necessário tirar a área das mãos de Aldo Rebelo não porque ele seja do PC do B, mas porque não reza pela cartilha do chefe da Casa Civil, José Dirceu.
João Paulo Cunha reza e, assumindo o posto, fica fora da disputa pela vaga de candidato ao governo de São Paulo. Se estivesse a competência em jogo, não seria ele, a quem atribui-se em boa medida a perda da presidência da Câmara para o PP por razões de inabilidade política, o escolhido.
O loteamento em curso em nada vai alterar a qualidade da administração do País. Mas sem dúvida será ótimo para os beneficiários dos lotes.
O negociador
Não corresponde aos fatos a versão de que o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, “negociou” com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, os novos termos da Medida Provisória 232, sobre impostos.
Na realidade, os termos da conversa eram de um modo geral estranhos à compreensão de Severino. Quem tratou de tudo e funcionou como interlocutor de Palocci foi o deputado ex-Fazenda, ex-Receita, Francisco Dornelles.
Projeto Ciro
A intervenção federal nos hospitais do Rio de Janeiro por ocasião da anunciada ida de Ciro Gomes para o Ministério da Saúde não é fruto de mera coincidência.
O plano é abrir espaço político para Ciro no Rio de modo a que o Governo federal tenha presença para enfrentar seus adversários Cesar Maia e Anthony Garotinho, ambos postos como pré-candidatos à presidência da República.
É uma idéia. Arriscada, porém. Ciro já tentou mudar seu endereço político para o Rio, mas alguns fatores desaconselharam, entre eles as pesquisas de opinião.
Além disso, ele vai lutar no campo dos inimigos e talvez não possa contar com a simpatia dos petistas remanescentes na estrutura do Ministério da Saúde, cuja disposição de ajudá-lo a firmar eventual contraponto de eficiência em relação ao também petista Humberto Costa é pouca.
De camarote
Pelo menos por enquanto, Anthony Garotinho manterá prudente distância da briga entre União e Município na Saúde. Consta que está gostando bastante do espetáculo.
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