A diplomacia paralela é uma prática que passou a ganhar relevância a partir dos anos 40, quando grandes empresários, interlocutores de governos, começaram a atuar em canais paralelos e complementares ajudando a diplomacia convencional.
Na crise dos reféns do Irã, quem definiu a libertação, em uma reunião em Paris, foi o advogado argentino Hector Villalon, personagem central de livro de Pierre Salinger, principal referência sobre a questão.
A proximidade com Nelson Rockefeller foi importante nas negociações do chanceler João Neves da Fontoura, que resultaram na criação da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos e na solução da crise dos atrasados comerciais, em 1952.
A principal característica da diplomacia paralela é ser acionada apenas em momentos de crise. Por isso mesmo, exige sigilo nos movimentos e discrição dos atores. Diplomacia paralela com showbiz é contradição.
O canal paralelo nas relações dos Estados Unidos com o Brasil não é o empresário Mário Garnero -versão na qual embarcaram diversas publicações. Esse canal foi idealizado, organizado e estabelecido pelo embaixador Otto Reich logo após a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Reich era embaixador extraordinário da Casa Branca para a América Latina, depois de ter sido subsecretário de Estado para o Hemisfério Ocidental.
Por esse canal, acertou-se o encontro ente o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, e Condoleezza Rice, então assessora de Segurança Nacional dos EUA, em uma reunião com o ministro José Dirceu, ocorrida em 3 de março deste ano, depois de ter sido desmarcada por três meses, por problemas de agenda.
O encontro foi organizado por William Perry -consultor do Departamento de Estado, conhecido de Dirceu muito antes de Lula chegar à Presidência- e Reich, atualmente fora do poder, mas ainda bastante influente.
Garnero conhece George Bush, pai, mas não tem relacionamento com o filho, e não conhece Condoleezza Rice. Uma abordagem, por e-mail, feita em junho do ano passado ao chefe da Casa Civil de Bush, Andrew Card, foi parar na Divisão Latino-Americana do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, que se dirigiu à Subsecretaria do Hemisfério Ocidental para saber quem era "Mr.Garnero".
O mesmo ocorre com a jornalista Lally Weymouth, herdeira do "Washington Post" (ela não gosta de ser tratada assim, porque prefere ser reconhecida por seus próprios méritos jornalísticos). Ela esteve no Brasil em novembro de 2002 para entrevistar Lula, passou por Dirceu e tornou-se sua amiga, muito antes de conhecer Garnero.
Não se minimize a relevância do círculo social internacional de Garnero, nem dos eventos sociais que montou com brilho em Nova York.
Mas essa versão da necessidade de um intermediário social para chegar ao governo norte-americano ou de uma diplomacia paralela para "apresentar" o governo brasileiro ao norte-americano é muito provinciana. Um país com a relevância econômica e diplomática do Brasil conversa com o mundo inteiro, sem precisar de intermediários.
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