terça-feira, março 29, 2005

Folha de S.Paulo - ELIANE CANTANHÊDE: Vitórias e derrotas- 29/03/2005


BRASÍLIA - Tudo o que o superministro José Dirceu faz na política, Lula desfaz. Como a atrapalhada não-reforma ministerial.
Mas tudo o que o superministro Antonio Palocci Filho decide na economia, Lula faz. Como a não-renovação do acordo com o FMI.
Foi Dirceu quem articulou toda a não-reforma, que deixa uma legião de quase-ex-ministros, como o próprio "coordenador político" (assim mesmo, entre aspas) Aldo Rebelo, além de Humberto Costa, da Saúde, Olívio Dutra, de Cidades, e Ciro Gomes, que saiu de Integração Nacional para Saúde e ainda não chegou.
A não-reforma deixa também uma legião de parlamentares frustrados/irados, como Amir Lando, que volta da Previdência para o Senado, Severino Cavalcanti, que não emplacou o apadrinhado Ciro Nogueira, João Paulo Cunha, que caiu da presidência para a planície da Câmara, Roseana Sarney, aquela que foi ministra sem nunca ter sido, e, o pior de todos, José Sarney, que parece muito bonzinho, mas não é tanto.
Quanto a Palocci, foi quem articulou meticulosamente o adeus ao FMI, anunciado num momento oportuno em muitos sentidos. Demonstra confiança no vigor da economia, agrada a setores da esquerda muito descontentes com os erros políticos do governo e tem uma ótima simbologia para a opinião pública -o "fora FMI" soa bem aos ouvidos da maioria do eleitorado, mesmo que não seja exatamente um fora.
Esperava-se que o governo Lula fosse um sucesso na política e um desastre na economia, mas repete FHC em ambas e consegue exatamente o oposto das expectativas. Na política de Dirceu, apenas troca as rãs de Jader Barbalho pelos frangos do novo ministro Romero Jucá. Na economia de Palocci, confirma o que Pedro Malan repetia à exaustão ao levar pedradas, sobretudo do PT: tudo é uma questão de processo.
Em resumo, é ter rumo, decisão e uma infinita paciência. Palocci tem. Dirceu nem tanto. Dá no que dá.

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