BRASÍLIA - O uruguaio Jorge Drexler, cantando "Al Otro Lado del Río" ao ganhar o Oscar de melhor música para "Diários de Motocicleta", remete para outra questão: Drexler, que vive há anos na Europa, é um exemplo da diáspora econômica uruguaia.
Esse é um dos bons motivos para o crescimento eleitoral das esquerdas no país desde os anos 70, numa média de 10% a cada década, até dar no que deu: com licença de Bush e de Condoleezza, o presidente que toma posse hoje, Tabaré Vásquez, é mais um de esquerda na América Latina.
Ele vem se somar a Fidel, um tanto arcaico, a Chávez, estridente, a Lula, o novo "bom moço" dos mercados, e a Kirchner, às vésperas de comemorar uma boa adesão a sua dura proposta de renegociação da dívida.
Apesar das diferenças, a posse de Vásquez é mais um recado de insatisfação com o tal "modelo neoliberal". Como é, também, a confirmação de que os movimentos na AL são combinados: ditaduras militares nos 70, os "humanistas" dos 80, os impeachment, a onda neoliberal dos 90 e, agora, essa guinada à esquerda.
Há curiosidade em relação a Tabaré Vásquez, socialista eleito por uma ampla coalizão de esquerda que rompe um longo revezamento de "direita" entre os partidos Colorado e Blanco. A primeira resposta veio já na campanha, quando ele indicou o comportado Danilo Astori para a Economia, e o mercado soube ler: ninguém vai virar mesa nenhuma.
O Brasil tem pauta comercial complexa e Lula está muito cauteloso. Já o Uruguai vive da carne, como a Venezuela, do petróleo. Chávez berra contra Bush, mas mantém os contratos com os EUA. Vásquez deve falar grosso, mas não vai fazer diferente.
Isso não significa que tudo muda para continuar exatamente como está. A nova esquerda latino-americana tem lá suas afinidades, idiossincrasias contra a hegemonia do Norte e convergências de visão de mundo e de interesses. Não vai chutar o pau da barraca, e Lula é o melhor exemplo. Mas há um movimento a ser bem observado. E levado a sério.
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