É preocupante a irrupção de um inesperado surto da doença de Chagas em Santa Catarina. Pelo menos cinco pessoas morreram e já há três dezenas de casos de contaminação. Se confirmada a hipótese de que o mal foi transmitido por caldo de cana vendido em quiosques às margens da rodovia BR-101, até 50 mil pessoas podem ter sido expostas ao parasito.
Como a venda de caldo de cana foi proibida em todo o Estado de Santa Catarina e também em regiões adjacentes, espera-se que não estejam ocorrendo novas contaminações. É importante agora que as pessoas que tenham consumido a bebida na estrada entre 1/2/2005 e 20/3/2005 procurem os serviços de saúde da cidade em que se encontrem para fazer o exame e descobrir se foram infectadas. A doença de Chagas aguda pode ser fatal, e o principal medicamento contra ela, o benzonidazol, só é efetivo quando utilizado precocemente. Uma pequena fração dos infectados poderá desenvolver a forma crônica da moléstia, que pode provocar insuficiência cardíaca.
Na hipótese mais plausível para este surto, a doença foi transmitida por uma via pouco usual: insetos vetores contaminados -provavelmente barbeiros- teriam sido moídos com a cana ou defecado sobre ela ou sobre o caldo. Essa tese ajuda a explicar a gravidade dos casos até aqui registrados. Na ingestão oral, a quantidade de protozoários Trypanosoma cruzi absorvida pelo corpo é muito maior do que a transmitida pela via mais ordinária (quando fezes do barbeiro depositadas sobre a pele infectam a ferida deixada pela picada do inseto).
Embora raro, o contágio oral não é exatamente inédito. Já ocorreram surtos parecidos no Rio Grande do Sul e na Paraíba. O episódio reforça a necessidade de Estados e municípios exercerem com rigor a fiscalização sanitária em bares, restaurantes e assemelhados. É inaceitável que alguém tome um caldo de cana num dia de verão e contraia uma doença de Chagas para o resto da vida.
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