Dizer que a fisiologia se converteu no principal motor da política brasileira não constitui novidade. Ainda assim impressiona a desfaçatez crescente com que pessoas e grupos colocam o Estado a serviço de si mesmos e não da sociedade. A novela da reforma ministerial, que acabou não havendo, escancarou o apetite da base aliada por postos e verbas no governo federal.
Pressionado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, reagiu ao "ultimato" lançado pelo deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), presidente da Câmara, limitando as mudanças a duas. O recuo serviu para conter danos que poderiam advir da ascensão ao ministério de controvertidas figuras, como o "ex-futuro" ministro das Comunicações, Ciro Nogueira (PP-PI), apadrinhado de Severino.
Lamentavelmente, porém, ao menos uma das duas trocas realizadas parece destinada a trazer desgastes para o Planalto. As dúvidas que cercam a conduta do novo titular da Previdência, Romero Jucá (PMDB-RR), são de tal ordem que o presidente terá, no mínimo, de se esforçar para justificar como a nomeação não acabou sendo obstada pelas informações existentes sobre seu passado.
Não bastasse o fato de o ministro Jucá ter dívidas com a Previdência -o que já deveria bastar para mantê-lo longe do ministério-, reportagem da Folha revelou ontem que ele ofereceu como garantia para um empréstimo oficial sete fazendas que nunca existiram.
É claro que Jucá é inocente até prova em contrário. Não é em absoluto impossível que ele tenha sido enganado por um sócio, como alega. Mas entre a presunção de inocência e a nomeação para um cargo de ministro de Estado há enorme distância.
É de perguntar o que o PT, em seus tempos de oposição, estaria propondo diante de um caso como esse. A demissão do recém-nomeado? Sua pronta renúncia? Realmente, na ausência de esclarecimentos imediatos e definitivos, essas parecem ser alternativas bastante razoáveis.
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