Nos últimos anos, houve enormes avanços na oferta de informação pública pela internet no país. Os sites do Banco Central e do IBGE são exemplos marcantes de qualidade e funcionalidade da oferta de informações públicas.
Mas o Radar Comercial, do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), é um caso à parte. Na coluna de terça-feira ("Graduação em comércio exterior") dei a entender que a inteligência de comércio exterior no país começou a partir de 2003.
Na verdade, começou em 2000, no governo FHC, com a criação do Radar Comercial, no âmbito da Coordenação de Promoção e Mercado (Copem), órgão do MDIC. Tudo isso graças ao arejamento trazido pela reforma administrativa do ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira, que previu uma nova modalidade de carreira pública: o analista de comércio exterior.
Em dezembro de 2001 ficou pronto o primeiro estudo de mercado, com análises sobre o comércio com os Estados Unidos, incluindo estudos por produto, dinâmica de cada produto, dados de demanda internacional, dinâmica de inserção brasileira em cada setor, produtos potenciais, principais concorrentes etc. Depois, foram montados estudos sobre o comércio com a Alemanha, Inglaterra, França, Japão e China. Em 2002 teve início a informatização do projeto, lançado como sistema em abril de 2004, já na gestão do ministro Luiz Fernando Furlan.
Vale a pena navegar pelo sistema. Não se trata de uma mera compilação e cruzamento de dados. Há avaliações qualitativas, com conceitos criados pela equipe do Radar, como "Representatividade", "Potencial Importador a ser Explorado" e "Dinamismo e Performance de Produtos".
O projeto é um exemplo eloqüente da importância das novas carreiras de Estado, da relevância do empreendedorismo na área pública e da continuidade e da profissionalização na gestão pública.
Vale do Rio Doce
A negociação da Vale com a Nipon Stell -reajustando o preço do minério de ferro em 71,5%- é um evento histórico. Pela primeira vez em sua existência, a Vale ganha autonomia em relação ao seu maior cliente e passa a ditar os preços mundiais.
Há algum tempo os australianos -seus maiores concorrentes- haviam aplicado um megarreajuste no preço do carvão. Internamente, a Vale sofreu resistência feroz da Arcelor, controladora da Belgo Mineira e da Companhia Siderúrgica de Tubarão, acenando com o fantasma do repasse de preços -que deverá ser mínimo no IPCA.
Não é esse o problema, nem mesmo o relacionamento da Vale com as grandes siderúrgicas nacionais, que terão a vantagem de receber o minério sem o custo do frete de seus concorrentes internacionais. O buraco é mais embaixo, na seqüência da cadeia produtiva do aço: ou seja, os clientes das siderúrgicas. Para enfrentar o mundo, as margens de lucro da Vale e das siderúrgicas são bem-vindas. Mas o mercado interno merece um tratamento diferenciado, pela incapacidade de enfrentar o poder de monopólio dessa estrutura.
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