BRASÍLIA - O grande trunfo de Lula é o gogó. E o grande risco de Lula também é o gogó.
Enquanto a turma do uísque e do vinho tinto torce o nariz para a falta de gerência, juros altos e superávits primários inacreditáveis, a turma do boteco da esquina não dá a mínima para nenhuma dessas chatices.
O que faz a diferença entre a avaliação de Lula (mais alta) e a de seu governo (mais baixa) são os resultados objetivos da economia e a maneira como o presidente se comunica. Quando envereda pelas metáforas, pode agradar muito a turma do boteco (já que o papo é mesmo sobre futebol). Mas, quando o improviso é sério, a turma do uísque e do vinho, formadora de opinião, se assusta.
Lula decidiu "bater duro" em FHC, que dera entrevista ao "Correio Braziliense" responsabilizando o sucessor pela anarquia partidária e pela própria derrota para Severino Cavalcanti na eleição na Câmara. Na quarta-feira, aproveitou uma entrega de prêmios para dizer que o governo tucano fora "negligente", "anti-republicano" e "antinacional". Na quinta, animado com o próprio tom, extrapolou ao contar, sem contar direito, a história de um assessor que fizera denúncias contra a gestão FHC.
Segundo Lula, ele ordenou ao denunciante: "Feche a boca!". Nada poderia ser mais negligente, anti-republicano e antinacional. Com efeito bumerangue. Tentando atingir FHC, Lula atingiu a própria testa.
Foi a vez de FHC se refestelar. Numa nota elegante, sem gorduras, ele disse tudo o que tinha que dizer: que nunca impediu investigações do Ministério Público como presidente, não impediria agora sem funções pública. E que, portanto, ou Lula contava tudo e fazia o que deveria ter feito desde o início -mandar apurar às últimas conseqüências-, ou se retratava em público. Caso contrário, o Congresso que entrasse em ação.
Lula perdeu uma ótima chance de ficar calado. Quando o presidente é boquirroto, fala cobras e lagartos. E é vítima do próprio veneno.
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