SÃO PAULO - Passado o espanto pela eleição de Severino Cavalcanti para a presidência da Câmara, olhemos um pouco no espelho.
Para começar, nem Severino nem os 300 deputados que o elegeram penetraram na surdina no Congresso e votaram indevidamente. São todos regularmente eleitos -por mim, por você, por nós.
Se você se ofende com a constatação, não é nada pessoal. Não é você, fulanizado, mas o brasileiro médio.
Esse personagem, provavelmente majoritário, é deseducado, desinformado (pateticamente desinformado), desinteressado, desorganizado e despolitizado.
Quantas vezes você ouviu alguém a seu lado dizer que não gosta de política, que não entende de política, como se o ato de viver, em si, já não fosse um tremendo manifesto político?
Somos todos aquela Kombi velha, em estado falimentar, que, não obstante, vai resfolegando pela esquerda, na via expressa, segurando atrás dela uma fileira enorme de veículos. E, se você buzina pedindo passagem, ganha de volta um xingamento.
Sim, porque a noção de certo e errado, de convivência, de civilização, de direitos alheios é, no mínimo, nebulosa no Brasil. No fundo, certo é o que fazemos; errado é o que os outros fazem.
Daí à face delinqüencial dessa nebulosa é um passo. Errado é quando sou apanhado; até lá é certo.
Quantos amigos, profissionais liberais, você conhece que dão como endereço de sua empresa uma cidade próxima de São Paulo? Não porque ela de fato esteja lá instalada, mas só para fugir do ISS mais elevado na capital. Pergunte se algum deles acha errado essa, digamos, engenharia tributária.
Outras, digamos, "engenharias" são tão parte do cotidiano que já nem nos damos conta de que as praticamos. Não, não é com você, leitor. Mas olhe em volta, por favor.
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