ALBERTO TAMER O ESTADO DE S.PAULO Domingo, 15 de agosto de 2004
Crescimento do Brasil ainda depende de parceiros relutantes
Crescimento ainda depende de parceiros relutantes Confirmam-se as previsões da semana. Enquanto a economia do Brasil cresce, aproveitando os seis primeiros meses de expansão comercial, a China e os Estados Unidos desaceleram e a Europa acorda, como nós acordamos ao estimular os investimentos. Podemos chegar a 4% no primeiro semestre, mas se eles recuarem muito, como estão recuando, será necessário um avultado esforço nos próximos meses para manter as taxas atuais.
As informações deste fim de semana mostram que aquele impulso americano e, principalmente, chinês-asiático, começa a perder força. Nos EUA, a maioria dos economistas revisou suas previsões de crescimento para este ano de 4,5% para 4,1%. E na China, o banco central admitiu sexta-feira que a inflação anualizada, em julho, ficou em 5,3%.
"A economia chinesa está vivendo uma fase crítica", diz o banco, dando a entender que logo mais poderá aumentar os juros. Aguardava apenas que o índice chegasse a 5% para pensar nisso. Passou. E vai seguir assim. Nesta fase inicial de desaquecimento, o BC chinês já está reduzindo a expansão monetária, vem dificultando o crédito e adotou outras medidas para conter o crescimento do PIB já neste trimestre e irá mais longe.
Japão Pode não ser coincidência, mas também neste fim de semana o governo do Japão informou que no segundo trimestre o PIB cresceu apenas 0,4%. Em 12 meses, não passou de 1,7%, muitíssimo abaixo das previsões de 4,1% do mercado e de 4,5% do FMI.
Está havendo sinais de novo recuo no aumento da demanda interna, informa o governo, o que se reflete no pequeno investimento das empresas privadas.
Elas ainda permanecem cautelosas.
A economia japonesa continua sustentando-se principalmente nas exportações para os EUA e a China, ambos em processo de desacelaração. O aumento do consumo do setor privado, que representa 55% do PIB, não passou de 0,6% em confronto com 1% no primeiro trimestre. EUA, China e preço do petróleo são as amarras que impedem, agora, a saída definitiva da recessão. O futuro do Japão continuará ainda indefinido pelo menos por mais alguns - ou muitos - meses. Haverá momentos de certa euforia, mas o cenário está ainda indefinido. Simplesmente porque eles não consomem, poupam. Não gastam, guardam. Sobra dinheiro e falta crescimento. As reservas cambiais acumulam-se. Ociosas ou aplicadas na compra de papéis no mercado financeiro, principalmente títulos americanos que agora, com a alta dos juros, estão rendendo mais, porém não destinadas a gerar recursos para projetos produtivos, oficiais ou privados. Numa frase, não se pode contar com o Japão para impedir a desaceleração da economia mundial.
Uma boa notícia Enquanto o Brasil avança, exporta e debate comércio com os europeus, surgem enfim as primeiras boas notícias na eurozona dos últimos anos. Parece que acabou a retração econômica na Alemanha. No segundo trimestre do ano, o PIB cresceu 0,5%, a melhor performance dos últimos 3 anos. O último bom resultado, 0,9%, foi no primeiro trimestre de 2001. Essa informação oficial veio logo após a França ter festejado que também no segundo trimestre sua economia cresceu 0,8% repetindo o resultado dos 3 meses anteriores. Em Paris, já se fala em 2,5% até o fim do ano, e, em Berlim, 1,5% ou 2%. Algo inusitado após anos de estagnação.
Mas, em ambos os casos, o mesmo diagnóstico: a causa básica não veio do mercado interno, mas das exportações. Ou seja, mais uma vez, muita coisa fica dependendo da demanda externa americana e asiática nos próximos meses.
São eles que compram É importante assinalar que estamos falando dos nossos três principais mercados: 1- a União Européia, 25,9% do total; 2 - os EUA, agora só 20,3%; e 3 - a Ásia, 16,3%.
Nesta, surge a China, para onde exportamos quase US$ 3 bilhões de janeiro a julho, 6,7% do total, e o Japão. Aqui, no comércio com os japoneses, o grande desânimo. Usando a ilusão da porcentagem, pode-se dizer que entre janeiro e julho do ano passado e o mesmo período deste ano o crescimento das vendas para o Japão aumentaram 17,4%, mas em termos de valores, não passamos muito de US$ 1 bilhão. Ou seja, US$ 1,039 bilhão em 2003 e US$ 1,220 bilhão nestes 7 primeiros meses. E isso para um país que importou mais de US$ 350 bilhões em 2003...
Acordamos!!!
O cenário que vemos é uma China se desacelerando, os EUA hesitando e uma União Européia feliz por sair da retração e aproximar-se de 1% no trimestre. Podemos estimar que o a economia chinesa fique em 7,5%, a americana em 4,2% ou 4,5%, dependendo do último trimestre do ano, e a européia em 2%. Não são números muito animadores, o que revela, mais uma vez, o acerto, afinal, do governo ao estimular os investimentos diretos, internos e externos, para reanimar a economia. Mesmo com um crescimento menor dos nossos parceiros comerciais, inferior ao previsto no início do ano, nossa participação no mercado mundial é tão pequena, mas tão pequena, algo aí da ordem de 1%, que há um espaço imenso para ocupar num mercado de US$ 7 trilhões.
Não, não, acalme-se, meu caro leitor. Não vou voltar à tese exaustiva pela qual tanto nos batemos há anos - investimento-exportação, exportação-investimento etc. -, mas que, após tanta gritaria, parece que acordaram em Brasília. Ah!, que acordaram, acordaram... É verdade que estamos ainda esfregando os olhos, nos primeiros bocejos de uma longa e teimosa hibernação. Mas pelo menos bocejar já é algo melhor do que ficar roncando enquanto os asiáticos, os russos, os indianos e até mesmo os mexicanos bailavam ao nosso lado...
Publicadoem: Sun, Aug 15 2004 3:36 PM
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