27/3/2004
"Não há por que manter o monopólio do
Estado sobre a segurança pública. Sobretudo
quando o Estado presta um serviço deplorável
como o nosso. Chegamos ao ponto em que
mercenários estrangeiros poderiam ser mais
confiáveis do que a polícia"
Os mercenários responsáveis pelo policiamento civil no Iraque pertencem à Dyncorp. Mil homens. Cuidam do recrutamento de policiais, da reforma do Judiciário e da montagem de cadeias. É gente altamente qualificada. Cada mercenário possui um mínimo de dez anos de experiência investigativa nos Estados Unidos. Para ser contratado, precisa superar uma corrida de obstáculos, arrastar um boneco de 84 quilos e subir uma escada de 6 metros de altura com uma arma na mão. Custo? Cinqüenta milhões de dólares por ano. Ou seja, nada. Vamos trazê-los para cá.
A Dyncorp é empregada no policiamento de outros países estrangeiros. Recebe dinheiro da ONU para manter a ordem na Bósnia, em Kosovo e no Timor. Recebe também dos Estados Unidos para defender a vida do presidente afegão Karzai e para combater o tráfico de drogas na Colômbia. Uma das críticas recorrentes a George W. Bush é que ele privatizou o Exército americano, estimulando o crescimento de companhias de mercenários como a Dyncorp. Bom para nós. Assim como a Ford fabrica carros no Brasil, porque não sabemos fabricar carros, a Dyncorp pode vir policiar nossas cidades, porque não sabemos policiar.
Os pacifistas não gostam dessas companhias de mercenários. Vão logo lembrando que homens da Dyncorp derrubaram um avião de missionários no Peru e aliciaram prostitutas na ex-Iugoslávia. É verdade. Mas o paradoxo está justamente aí: nenhuma atrocidade que os mercenários internacionais possam ter cometido se compara à brutalidade cotidiana da polícia brasileira. Se os Estados Unidos terceirizaram o Exército, o Brasil estatizou o Esquadrão da Morte. Nossa polícia fracassou dos dois lados: aliou a mais absoluta truculência à mais absoluta incompetência. Nenhum país do mundo pode suportar mais de 40.000 homicídios por ano. O triângulo sunita é pouca coisa perto de nós. Num caso extremo como o nosso, é preciso reconhecer que a polícia é irreformável. É preciso partir do zero.
Estima-se que a criminalidade custe mais de 30 bilhões de dólares por ano ao Brasil. Dinheiro para contratar os mercenários não falta, portanto. Poderíamos colocar a Dyncorp para policiar as ruas. Os Gurkhas nepaleses para vigiar as cadeias. A MPRI nas fronteiras. A Vinnell nas estradas. A Custer Battles nas favelas. A CSC no rastreamento do dinheiro sujo. O resultado imediato dessa medida seria acabar com os velhos esquemas de caixinha da nossa polícia. Não há por que manter o monopólio do Estado sobre a segurança pública. Sobretudo quando o Estado presta um serviço deplorável como o nosso. Chegamos ao ponto em que mercenários estrangeiros poderiam ser mais confiáveis do que a polícia. Poderiam nos proteger melhor. Com uma vantagem adicional. Além de agir contra os bandidos, a Dyncorp se prepara para oferecer a seus clientes um escudo espacial contra meteoros. No Brasil, a morte vem até do céu.
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