"Esses lugares estão associados à luta contra
a ditadura militar. Agora que os perseguidos
pela ditadura conquistaram o poder, esses
monumentos oposicionistas viraram
instrumentos de conservação do regime"
Eu demoliria o Tuca. O Tuca é o teatro da PUC de São Paulo, um dos marcos da resistência ao regime militar. Em seu lugar, eu poria um estacionamento. Ou um supermercado da rede Wal-Mart.
Eu demoliria também o prédio do Dops. E o estádio de Vila Euclides. E o Riocentro. E a antiga Faculdade de Filosofia da USP. E o Anhangabaú. E a Candelária. E o quartel da Tijuca. Esses lugares estão associados, de uma forma ou de outra, à luta contra a ditadura militar. Agora que os perseguidos pela ditadura militar conquistaram o poder, esses monumentos oposicionistas se tornaram instrumentos de conservação do regime.
O Tuca é como o Aurora, o navio que deflagrou a Revolução Russa. Se inicialmente o Aurora podia representar a luta heróica contra a tirania, com o passar do tempo foi se transformando em mera arma de propaganda para acobertar outra tirania. O Tuca, com sua história de luta contra o regime militar, acoberta o empreguismo, o clientelismo, o fisiologismo e o coronelismo dos antigos perseguidos políticos que agora mandam no Brasil.
Outro dia alguns intelectuais se reuniram no Tuca. Foram debater a cultura nacional. Todos eles se sentiram no dever de homenagear as vítimas da repressão policial dos anos 70. Os intelectuais brasileiros sempre viveram à custa do Estado. Viviam à custa do Estado durante o regime militar e continuam a viver até hoje. A diferença é que, em muitos casos, eles agora conseguem acumular mais de uma renda, como membros do aparato do Estado democrático e como opositores do velho Estado ditatorial.
Não são apenas os intelectuais que ganham de um lado e do outro. O próprio presidente Lula recebe uma pensão do Estado por seu passado oposicionista. Considerando que toda a sua carreira política foi construída em torno disso, ele está sendo demasiadamente recompensado. Este é o problema dos petistas: eles sempre se acham em crédito com o Estado e com a sociedade. Por isso demonstram tanta voracidade no preenchimento de cargos públicos, indicando parentes e amigos: eles se julgam merecedores de um ressarcimento por ter se sacrificado pelo bem do país, enquanto a maioria da população ficava calada. Não bastam os 4 bilhões de reais de indenização aos perseguidos políticos. Não bastam as aposentadorias milionárias. Eles querem mais.
A notícia que melhor resumiu o primeiro ano do governo Lula foi a tentativa do presidente e de sua mulher de caçar e devorar um pato da Granja do Torto. O episódio era emblemático da fome atávica do PT, a gula para abocanhar todos os bens do Estado. A notícia que dará o tom do segundo ano do governo Lula apareceu no Globo, poucas semanas atrás: o Palácio do Planalto está tão entupido de funcionários que muitos deles já não cabem em suas salas, sendo obrigados a trabalhar de pé, sem mesas e sem cadeiras. A ocupação da máquina estatal chegou a tal ponto que irá desencadear uma luta fratricida e sem escrúpulos para ver quem consegue conquistar os raros espaços disponíveis.
O Tuca, portanto, é um símbolo do reacionarismo. Quem realmente encarna o espírito revolucionário, hoje, é o Wal-Mart.
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