sexta-feira, setembro 28, 2012

Os gêmeos - IGOR GIELOW



FOLHA DE SP - 28/09



BRASÍLIA - Roberto Jefferson e José Dirceu são personagens de uma narrativa clássica, irmãos enlaçados num mesmo destino trágico. Pena que todo esse enredo rico de traições, confissões e gestos de incrível teatralidade nada tenha de sofisticação. Trata-se da mais pura "realpolitik" tropical. Não se tem tudo.

Ao longo de sete anos, ambos os "capos" partidários trocaram incontáveis farpas públicas e privadas.
Na primeira modalidade, o petebista foi imbatível. O seu "Sai daí rápido, Zé", antevendo a queda de Dirceu da Casa Civil de Lula, é um clássico da crônica política. Os melhores momentos dessa narrativa moralmente falida sempre foram seus.

Até por ser o homem que trouxe o mensalão à luz, na bombástica entrevista à Folha, Jefferson tendia a ser visto com alguma condescendência pelo público. Não ficou marcado no imaginário do caso como um vilão.
Mesmo cassado na Câmara, seguiu como mandachuva do seu PTB. Caíra, mas ficou longe do ostracismo total -de resto, também como Dirceu, que perdeu cargo e mandato, mas montou uma bem-sucedida carreira de "consultor" e manteve grande poder na máquina do PT.

Agora, Jefferson é um homem condenado pela maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Foi corrompido com milhões de reais. O corolário, apesar de todo o debate e das voltas que o mundo jurídico pode dar, é óbvio: e quem corrompeu?

Na próxima etapa, será a vez de Dirceu. Ele e outros membros da antiga cúpula do PT são acusados pela corrupção. Parece provável que eles também sejam condenados, enterrando de vez a retórica do chefe deles, Lula, de que o mensalão é uma farsa e o julgamento, uma forma de manchar seu legado.

O ato final da tragédia traz os dois protagonistas novamente ao centro do palco. Acabarão a história, enfim, Jefferson e Dirceu como gêmeos siameses, cobertos pelo mesmo manto pesado da condenação?