segunda-feira, setembro 24, 2012

Desliguem as câmeras no STF já - GUILHERME FIÚZA

REVISTA ÉPOCA 


O julgamento do mensalão está pondo a democracia em risco, porque está todo mundo vendo. O alerta do se­cretário de comunicação do PT, André Vargas, deputado pelo Paraná, é preocupante. Ele denuncia as transmissões ao vivo do Supremo Tribunal Federal como um perigo para as instituições, as pessoas e os partidos. Esse negócio de ficar mostrando as coisas como elas são, na hora em que aconte­cem, ainda vai dar problema.

Tudo era muito melhor antes de Roberto Jefferson abrir a janela e deixar a luz entrar. Na penumbra, sem ninguém de fora ver nada, a democracia estava mais protegida. Os negócios patrióticos que corriam de lá para cá pelo valerioduto teriam prosperado, e certamente haveriam pula­do da casa dos milhões para a dos bilhões. No que a TV mostrou e a imprensa publicou, aquele promissor proje­to nacional escorreu pelo ralo. Um prejuízo incalculável.

André Vargas diz que o julgamento no STF virou “quase um Big Brother da Justiça”. Com a habilidade de comuni­cador que fatalmente tem um secretário de comunicação, ele sugere que aquilo que se passa na corte suprema do país é uma palhaçada. Sua imagem nos permite imaginar que, a qualquer momento, os juizes tirarão suas capas e mergulharão de sunga na piscina, exibindo seus músculos, seus planos para a festinha de logo mais e suas intrigas para jogar o colega ao lado no paredão.

É uma sólida argumentação. Realmente, fora do circo, as palhaçadas só deveriam ocorrer entre quatro paredes. Sem transmissão ao vivo. A palhaçada da cúpula do PT, com Marcos Valério transferindo dinheiro do Estado para o partido, não tinha nada de vir a público. Era um assunto privado deles, ninguém tinha nada com isso. E o fato de a operação envolver dinheiro do povo não tinha o menor problema. Eles tinham sido eleitos por esse povo para fa­zer o que sabiam fazer. Estavam, portanto, cumprindo seu compromisso democrático. Tanto que, depois disso, foram eleitos novamente duas vezes para dirigir o país. Cada povo tem os palhaços que merece.

Só não fica bem, como disse André Vargas, botar essas coisas na televisão. Se a família está jantando, a comida pode não cair bem. E um risco para a democracia e para o estômago dos brasileiros. Para que viver perigosamente?

Democratas deste Brasil grande, interrompam ime­diatamente a transmissão das sessões do Supremo. De­tenham enquanto é tempo esse atentado às instituições e às pessoas de bem. Não é preciso tanta pressa para saber o que se passa no Tribunal. Vamos deixar as coisas se acalmar, a febre baixar e o povo se distrair com outra coisa. Papai Noel não demora, depois tem o Carnaval, e aí começa a contagem regressiva para a Copa do Mun­do no Brasil. Ninguém vai querer que este país sedie o maior evento do mundo com sua democracia em risco. Desliguem as câmeras no STF já!

Outro brasileiro que subiu o tom em defesa da de­mocracia foi o senador Jorge Vianna, do PT do Acre. Ele era um político moderado, equilibrado, conhecido pela sensatez. Mas tudo tem limite. Depois que o nome de Luiz Inácio da Silva começou a circular no Supremo, e que declarações atribuídas a Marcos Valério colocaram o ex-presidente no topo da palhaçada, o senador mansinho virou bicho. Assim como seu colega André Vargas, pôs o dedo na ferida: isso é um golpe da elite preconceituosa.
Para os não iniciados, é bom esclare­cer: “elite”, no dicionário do PT, é um ter­mo figurativo muito importante para os ladrões do bem, que os mantém na condição de milionários oprimidos. Eles têm o poder - mas “elite” são os outros.

É um conceito que funciona bem há bastante tempo, e em time que está ganhando não se mexe. A outra palavra- chave desse dicionário é “preconceito”. Luiz Inácio da Silva é o filho do Brasil, vítima da “elite”. Se você tiver “preconceito” contra a montagem de um governo qua­drilheiro, esqueça. Você estará sempre discriminando o pobre homem bom. Não importa quantos valeriodutos atravessem a biografia dele.

Como já decretara o nosso Delúbio, o mensalão é um gol­pe da direita contra o governo popular. Jorge Vianna, André Vargas e grande elenco petista estão dizendo: pelo amor de Deus, continuem acreditando nisso, senão estamos fritos.