segunda-feira, novembro 07, 2011

RUBEM AZEVEDO LIMA - Lula e seu câncer

Correio Braziliense - 07/11/2011

Os brasileiros perderam a noção do tamanho de suas tragédias, como, entre outras, a dos 45 mil que morrem, anualmente, no trânsito, ou a dos 40 mil mortos assassinados ou atingidos pelas balas perdidas nesse período. Mas, além da falta de segurança, o Brasil tem problemas na educação e na saúde.

Nessa, o economista Marco Antonio Campos Martins apreciou o caso do drama de Lula, bem como o de seu ex-vice- presidente José Alencar e o de sua sucessora, Dilma Rousseff, doentes da mesma doença, irem para um hospital particular de primeira linha, não para o SUS.

O país já teve hospitais públicos de qualidade, como o do Ipase, no Rio, para servidores do Estado, e os de outras categorias de trabalhadores, com atendimento irrepreensível. Isso acabou com o golpe de 1964, por decisão do ministro Roberto Campos, socorrido num grande hospital paulista, quando foi esfaqueado por sua amante.

Na Folha de S.Paulo, o articulista Ruy Castro lembra que a um brasileiro comum o atendimento no SUS demora 76 dias, para a quimioterapia; e 113, para a radioterapia. Lula e os outros foram atendidos imediatamente. Castro arremata o artigo amargamente, sobre as diferenças hospitalares antidemocráticas existentes no Brasil: "O câncer dos brasileiros comuns tem de aprender a esperar".

Eleito presidente, Tancredo Neves foi assistido no Hospital (público) de Base, em Brasília, por bons médicos. Mas, por não querer operar-se, receoso de uma reação militar à sua posse, seu quadro clínico agravou-se e o transferiram para São Paulo, onde ele morreu.

O descalabro no atendimento da saúde dos brasileiros comuns não deixou de piorar, significativamente, nos oito anos do governo Lula. É triste essa abordagem? É, mas, mais triste, é aceitar o falso direito democrático de Lula, no episódio hospitalar, como se aceitou sua "democracia", no exercício da qual ele absolveu os malfeitos da corrupção de seus amigos e companheiros políticos. Que ele se cure e, com seu prestígio, exija, se não chances iguais, um SUS melhor para o brasileiro comum. O povo o aplaudirá, como gosta D. Lula 1º e último.