segunda-feira, junho 07, 2010

Mensalão: antes e depois Fernando de Barros e Silva

FOLHA DE S. PAULO
SÃO PAULO - Completam-se nesta semana cinco anos das duas entrevistas
que Roberto Jefferson, então ilustre deputado governista, concedeu à
jornalista Renata Lo Prete. Elas trouxeram à tona o escândalo do
mensalão e deram início à maior crise política dos anos Lula. O
mensalão marca um capítulo do jornalismo e da história brasileira.

Para dimensionar sua importância, podemos fazer um exercício de
imaginação: o que seria hoje do país sem o conhecimento do mensalão?
José Dirceu provavelmente ainda estaria na Casa Civil, comandando as
ações do governo. E Dilma Rousseff não seria nunca candidata à
sucessão de Lula. O candidato talvez fosse o próprio Dirceu. Ou quem
sabe Antonio Palocci. São apenas especulações.

Mas o mensalão também foi um divisor de águas para Lula. A crise
obrigou o presidente a testar seus próprios limites, colocando à prova
a extensão do seu poder. Paradoxalmente, o mensalão serviu para
emancipar Lula do PT. E, de certa forma, dele mesmo.

Numa analogia psicanalítica, o mensalão foi uma espécie de terapia
expressa para Lula. A superação do trauma veio desembocar no líder
"bem resolvido" do segundo mandato. É evidente que na base material
que explica esse processo estão o desempenho da economia e os efeitos
dos programas e ações sociais do governo.

No que se refere aos costumes políticos, no entanto, não houve nenhuma
superação virtuosa do mensalão. Pelo contrário. O PT recalcou seus
dilemas éticos. A conversa da refundação não era séria. A popularidade
de Lula acabou se convertendo em pretexto e razão suficiente para
abafar qualquer autocrítica. Prevaleceu o pragmatismo da realpolitik.

Lula superou pessoalmente um problema que o PT desistiu de enfrentar.
Vários "companheiros" ficaram pelo caminho e vão ter de responder à
Justiça. Entre mortos e feridos, o país caminha, como o malandro da
canção, assim de viés