segunda-feira, maio 25, 2009

A Petrobras é nossa Fernando de Barros e Silva


Folha de S. Paulo - 25/05/2009

Não se deve esperar muito da CPI da Petrobras. Isso só não vale para a turma do PMDB, que já vislumbrou nela mais uma oportunidade de furar o fundo do poço da moralidade.
A investigação pouco promete, mas não por falta de assunto. O noticiário exibe uma profusão de coisas obscuras, ou claras demais, à espera de análise séria. Mas seriedade é o que falta hoje ao Congresso.
Não é só o ambiente rebaixado da Casa que contamina e desmoraliza a CPI antes mesmo de seu início. Nos últimos dez dias, desde que o Senado aprovou o requerimento, houve uma inversão de papéis: a oposição foi acuada e age como se estivesse intimidada diante do governo. Só está faltando vir a público se desculpar pelos transtornos causados a Lula e ao PT.
A pusilanimidade da tucanada deixou o Planalto à vontade para montar uma operação de guerra a fim de blindar a galinha dos ovos de ouro. Ministros se juntaram em coro ao próprio Lula para dizer que a CPI é um crime de lesa-pátria. Sindicalistas, petistas e barnabés abraçaram o prédio da empresa no Rio, gritando palavras de ordem contra sua privatização -algo que não está absolutamente em jogo.
O terrorismo retórico orquestrado pelo Planalto tem duas faces: de um lado, recorre ao jargão empresarial para sugerir que os negócios da Petrobras serão afetados; de outro, apela ao sentimento nacionalista, numa espécie de evocação do fantasma de Getúlio Vargas.
Eis, nessa mistura de rendição às razões do mercado com arremedo de getulismo, uma imagem sintética e fiel do governo Lula.
Mas o varguismo mimetizado pelo PT não se limita à reciclagem do bordão "o petróleo é nosso". Não é só uma questão de imaginário, mas também de método. A verdadeira inspiração getulista do segundo mandato está materializada na máquina de propaganda oficial, sob os cuidados de Franklin Martins. A reação à CPI é só um aviso do que ela é capaz contra os que se atrevem a atazanar a vida do comissariado.