segunda-feira, fevereiro 23, 2009

Em Furnas, o carnaval começa na quinta ELIO GASPARI

Nosso Guia, com sua trajetória de sindicalista; a ministra Dilma Rousseff, com seu currículo no setor de energia, e o senador Jarbas Vasconcelos, com as credenciais de caçador de malandros, deveriam marcar um encontro para as 14h de quinta-feira na sede da Fundação Real Grandeza, no Rio de Janeiro. A essa hora começará a reunião do conselho deliberativo do fundo de pensão dos trabalhadores das Centrais Elétricas de Furnas, destinada a destituir seu presidente, Sérgio Wilson, e o diretor de investimentos, Ricardo Nogueira.
Com um capital de R$ 6,3 bilhões, 12.500 associados, 6.500 aposentados e pensionistas, a Real Grandeza administra o ervanário dos trabalhadores da estatal que gera 10% da energia elétrica do país. As artes de Asmodeu entregaram esse gigante a donatários do PMDB do Rio.
Pelo menos um de seus presidentes, o arquiteto Luiz Paulo Conde, teve sua indicação publicamente assumida pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
A degola dos dois administradores do fundo disparou uma mobilização inédita no sindicalismo brasileiro.
Os funcionários de Furnas pararam seu escritório central na segunda-feira e ameaçam ir à greve, sem reivindicar coisa alguma. Querem apenas proteger o patrimônio de suas aposentadorias. Entregue a administrações ruinosas, a Real Grandeza passou por diversas caixas do “mensalão” e perdeu R$ 153 milhões no Banco Santos. Um de seus gerentes de análises de investimentos tinha a proteção de Delúbio Soares. A canibalização fez com que o fundo fechasse suas contas com um superávit de míseros R$ 2 milhões. (A atual diretoria encerrou 2008 com R$ 1,2 bilhão.) O caso da Real Grandeza desceu dos céus como resposta àqueles que criticaram o senador Jarbas Vasconcelos por falta de “especificidade”.
Se os dois administradores praticaram atos impróprios, nada melhor do que expô-los à luz do Sol.
No entanto, são acusados de mau relacionamento com a diretoria de Furnas.
(Falta definir “bom relacionamento”.) Eles só podem ser demitidos pelo Conselho Deliberativo, composto por seis titulares.
Três são indicados por Furnas e pela Eletronuclear.
Os demais são eleitos pelos funcionários e pelos aposentados.
Cada titular tem um suplente. O golpe já foi a voto ano passado e perdeu de seis a zero. Logo depois apareceu uma oferta: os aposentados levavam a presidência da fundação, mas entregavam a diretoria de investimentos (logo ela). Foi rebarbada.
Desde janeiro de 2008, quando começaram as pressões pela degola dos dois servidores, renunciaram seis dos sete titulares e suplentes indicados por Furnas. Três nas últimas semanas.
Na caça aos dois administradores há um aspecto curioso.
Eles têm mandato até outubro deste ano. Para que a pressa? Mais: por que a reunião do conselho foi marcada para logo depois do Carnaval?