quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Brasil perde momento para discutir nova matriz energética

Blog Miriam Leitão

Ontem, no Congresso americano, o presidente Barack Obama falou de energia renovável e disse que haverá teto e preço para a emissão de carbono nos Estados Unidos. Enquanto isso, aqui no Brasil, o plano decenal da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) prevê, em 2017, ainda muito uso das matrizes fósseis no consumo final de energia.

Segundo a EPE, em 2008, a participação de derivados do petróleo era de 40% e em 2017 será de 36%. Os biocombustíveis, que representavam 23% do consumo final em 2008, passariam para apenas 25% em 2017. Já a eletricidade, que era 19% no ano passado, passará para 21% daqui a nove anos. Os outros percentuais não mudam na participação das fontes de energia no consumo final de 2008 para 2017: gás natural fica com 6% e outras fontes seguem com 12%.

- O Obama está falando em substituir as fontes de energia nos Estados Unidos por matrizes energéticas mais limpas. Isso tem três motivos. Um é depender menos do petróleo dos árabes. O segundo é a questão do meio ambiente e reduzir a emissão de gases. O terceiro é gerar emprego - diz o professor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

Os dois últimos motivos, aplicados em qualquer economia moderna, não são muito utilizados aqui no Brasil. O plano de investimento da Petrobras prevê a construção de mais quatro refinarias, no Maranhã, no Ceará, no Rio Grande do Norte e em Pernambuco, além dos investimentos no Comperj. Segundo Adriano Pires, a tendência que está se colocando para a energia brasileira é uma marcha a ré.

- Com o pré-sal, o negócio vai ser explorar mais petróleo. Isso é retrocesso. Dá para ter mais medo ainda do pré-sal. Se tiver esse óleo todo que a Petrobras fala que tem, vai ser dada uma marcha a ré imensa. Se sem o pré-sal já se fala em energia térmica, com ele, vai é se produzir muita gasolina. E o que vai se fazer do etanol, do biodiesel? Com o pré-sal, a tendência é o crescimento das matrizes fósseis - afirma Pires.

A crise pegou o país num momento de reservatórios cheios, o que permitiu desligar as térmicas. Vai sobrar energia em 2009 ano porque o consumo está menor e será menor durante todo o ano. Isto permitiria uma discussão sobre matrizes energéticas limpas e novas sem a necessidade de se lutar contra um apagão, como no início do ano passado. Só que este assunto passa ao largo do governo.

- O plano da EPE, por exemplo, não retrata essa discussão. Os reservatórios hoje estão cheios de água, no país todo. A situação é diferente do ano passado, quando havia o risco de apagão. Mas se o país voltar a crescer o que o governo quer, vai faltar energia. o Brasil tem vento, tem sol, tem terra para plantar e produzir biocombustíveis. Só que isso não está sendo discutido - diz Adriano Pires.