sábado, novembro 29, 2008

Santa Catarina por Maria Helena Rubinato


Santa Catarina

Nossos tempos não andam parcos para quem tem a página em branco diante de si. Quero lembrar disso quando estiver sem assunto... Mais vale quebrar a cabeça atrás de algo que valha a pena ser lido, do que ficar assim como estou, diante de tantas coisas angustiantes para comentar.

Ao sentar diante do teclado, ocorreu-me falar sobre o empréstimo feito pela Petrobrás, que a senhora Dilma Roussef crê ser a coisa mais natural do mundo! A empresa precisa pagar impostos, não tem problema algum, faz um empréstimo, paga o que deve, e depois paga o empréstimo. E, pergunta a ministra em tom impaciente, “o sonho de qualquer banco é emprestar para a Petrobrás! Qual o problema?” Responder o quê, sem ser descortês com a ministra?

Em seguida, pensei no deputado Paulo Paim. Ele pede algum absurdo? Pede alguma coisa que vá de encontro aos interesses maiores do Brasil? Luta por algum bandido, campeia por alguma causa menos nobre, por uma negociata que vá favorecer um grupo ou dois? Não, ele pede que os aposentados recebam o que lhes é devido. Só isso. Que recebam de acordo com o que descontaram ao longo de suas vidas. Disseram que para atender aos seus propósitos, seria necessário fundar outra República...

Também pensei na revoltante incapacidade de nossos homens públicos em aceitar o óbvio: do que precisamos é de escolas para crianças e jovens, escolas e professores. De erradicar a maior mancha em nossa vida, o analfabetismo, que é crescente e que não parece querer desaparecer como por encanto... Alfabetizar, é esse o segredo do sucesso que pode ou não terminar na Universidade. Ser Doutor não é vital, ser Alfabetizado, é.

Mas nada é mais premente ou sofrido do que a tragédia que se abateu sobre Santa Catarina. Dói ver as imagens que desfilam diante de nossos olhos, sentados diante da TV. E lá, o que será que sentem aqueles que estão sendo martirizados?

Sou católica, tenho fé. Procurei saber qual Santa Catarina batizara um dos mais belos estados do Brasil. Minha favorita, Santa Catarina de Siena, não está entre as hipóteses. Uma conta que um paulista estabelecido na antiga Ilha dos Patos tinha uma filha de nome Catarina e por isso a ilha passou a se chamar Ilha de Santa Catarina. Outra, que o navegador Sebastião Caboto, querendo homenagear a mulher, Catarina Medrano, deu à ilha seu nome; ainda há outra que sugere que o nome é homenagem à Santa Catarina de Alexandria, santa mui venerada pela Igreja e cuja festa, aí prendo a respiração, acontece em 25 de novembro.

Sinto não ter encontrado algum fato que comprove ser Santa Catarina de Siena a padroeira daquela linda terra. Gustavo Corção, grande pensador católico, pronunciou, em 1948, no Centro Dom Vital, uma conferência sobre Santa Catarina de Siena, a que embora analfabeta escreveu mais de 300 cartas para reis, papas, príncipes, bispos, todos que pudessem ajudar em sua luta pelos desvalidos. Leiam o que ele diz:

“Contam que era faladeira, como qualquer boa italiana. Se era capaz de passar dias no mais completo silêncio, era também capaz de passar a noite inteira, entre os seus discípulos, sentada no chão, falando, falando, falando (...) Nas horas mais impróprias ditava à rainha de Nápoles e ao rei de França cartas tão utópicas e tão ineficazes como as cartas que o Dr. Sobral Pinto dita para os nossos ministros de estado*.

Mas, o que mais vivamente nos impressiona em Catarina, a ponto de nos desorientar a imaginação na tentativa de apreender sua fisionomia e suas atitudes, é o paradoxo de sua perfeita humildade aliada a um dinamismo, a uma tenacidade, a um vigor da vontade que somente se encontram nas figuras dos grandes guerreiros”.

Não parece uma descrição dos catarinenses que, por mais de uma vez, com tenacidade e força, reconstruíram suas casas, ruas, estradas e cidades? Sei que desta vez as chuvas foram impiedosas, não me lembro de ter visto nada parecido no Brasil. Mas, tenho certeza que uma brevíssima ajuda do Governo Federal, esse dromedário que anda com a velocidade de um elefante manco, e com o valioso auxílio de nossas FFAA, nisso sempre excepcionais, logo aquele estado voltará ao que era.

E nós, concidadãos, faremos o que está em nosso poder: ajudar com dinheiro, trabalho, víveres, coração. O que não dá é para ficar de espectador, numa hora dessas. Ou para fugir do assunto. Como alguns e algumas.

Ajudar, e pedir à Santa Catarina de Siena, Doutora da Igreja, que rogue pelos catarinenses, é o que peço a todos, sobretudo em nome de nossos companheiros catarinenses aqui do Blog do Noblat.

* Heráclito Sobral Pinto (1893/1991), inesquecível advogado que de pequenino só tinha o tamanho, era um gigante moral! Faz falta...