sexta-feira, janeiro 25, 2008

NELSON MOTTA Feijão, pagode e globalização




Folha de S. Paulo
25/1/2008

Alguém precisa avisar o ministro Carlos Lupi que os brasileiros que vivem nos Estados Unidos não precisam de uma "casa do trabalhador" para "matar saudades de um feijãozinho e ouvir música popular". Todas essas cidades onde vivem dezenas de milhares de emigrantes brasileiros -como Nova York, Boston e Miami- já têm um farto comércio de produtos do Brasil, justamente para atender a esse mercado, como acontece no capitalismo.
Na rua 46, em Manhattan, encontra-se tudo o que o ministro acha que faz falta aos brazucas: restaurantes que servem vatapá, churrasco e feijoada, lojas de bugigangas eletrônicas, de biquínis, de produtos da Amazônia, de remessa de dinheiro, depiladoras, agências de viagem, lanchonetes, mercados onde se compra, além do feijão, tudo de que se precisa para uma feijoada completa, a preço de banana.
Nessas cidades, a goiabada abunda, só falta o queijo minas, porque a vigilância sanitária local não deixa entrar. O resto tem: revista "Caras", cachaça 51, pomada Minâncora, sandália Havaiana, camisa do Flamengo, farinha de mandioca, chá mate, dendê e outros ícones da nacionalidade estão ao alcance de todos. Música popular nem se fala, qualquer Virgin Megastore tem mais discos brasileiros do que a maioria de nossas lojas.
Os brazucas acompanham as novelas e os jogos do Brasileirão pelos canais internacionais da Globo e da Record, lêem os jornais brasileiros pela internet, estão lá por vontade própria, ninguém os obrigou, voltam quando quiserem. E deviam voltar logo, já que o governo diz que aqui está uma maravilha.
Desconfio que essas "casas do trabalhador" só servirão mesmo para abrigar amigos e correligionários, pagos em dólar, com o suor dos nossos impostos: a bolsa-feijão e pagode.