quarta-feira, janeiro 30, 2008

Antonio Sepulveda Efeméride

Efeméride

Antonio Sepulveda, escritor

Em 17 de janeiro, o Navio Hidrográfico Sirius da Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha do Brasil celebrou o qüinquagésimo aniversário de incorporação à Armada. Que importância teria essa efeméride para o povo desta terra?

Pois é. Infelizmente, são poucos os brasileiros cientes do que venha a ser um navio hidrográfico; pouquíssimos já ouviram falar do NHi Sirius; e um número ainda menor sequer desconfia da extrema relevância para o país da existência de instrumentos de progresso e desenvolvimento do calibre de um Sirius, cada vez mais raros neste nosso Brasil. Com efeito, sem as manchetes da mídia, existe uma fração de abnegados a trabalhar silenciosamente, com empenho e seriedade, no anonimato das grandes causas, que produz, de fato, resultados dos quais podemos nos orgulhar e que nos permitem uma pausa na triste realidade de um povo mergulhado na lama que jorra dos três poderes da república num dilúvio de incompetência e improbidade.

O NHi Sirius é referência significante na saga da hidrografia brasileira. Encomendado aos Estaleiros Ishikawajima, em Tóquio, coube-lhe a primazia de ser a primeira embarcação de grande porte da Marinha do Brasil projetada e concebida exclusivamente para o serviço hidrográfico, o qual consiste, principalmente, na realização de levantamentos geradores de cartas náuticas. Os números impressionam. Foram quase 90 levantamentos hidrográficos e oceanográficos — 3.941 dias de mar e mais de 755.000 milhas navegadas, equivalentes a quatro viagens à Lua — que proporcionaram segurança à navegação do transporte marítimo de 95% das riquezas nacionais; em outras palavras, sem a contribuição do Sirius, o crescimento do país estaria seriamente prejudicado neste último qüinqüênio.

Não apenas isso. A conclusão do levantamento da plataforma continental, batizado de Leplac, fato ainda desconhecido do grande público, é de imensa importância para o nosso desenvolvimento cientifico e econômico em longo prazo. A plataforma continental é a área marítima imersa que declina suavemente, a começar do litoral, até o abismo que mergulha da sua extremidade nas profundezas oceânicas. Após quase duas décadas de planejamento e trabalhos contínuos, a Marinha concluiu um extenso levantamento para estabelecer o limite exterior de sua plataforma continental. O NHi Sírius, uma verdadeira academia de ciências do mar, coletou dados oceanográficos da margem continental brasileira que serviram à confecção do Leplac. Os resultados indicam que o Brasil deverá incorporar à sua jurisdição uma área oceânica de cerca de 911.000 km2, além do limite de 200 milhas, em relação à qual terá direitos exclusivos sobre os recursos naturais, com um imenso acervo de informações.

Apesar do descaso e da ignorância de políticos mergulhados na mediocridade de um dia-a-dia de trapaças, a Marinha soube usar os minguados recursos que lhe sobraram de um orçamento viciado pelo assistencialismo e pela negociata política. O NHi Sirius acompanhou o desenvolvimento do estado-da-arte no preparo do pessoal e na qualidade do material. Nas palavras de seu atual comandante, “o Sirius, ao contrário das limitações biológicas dos seres humanos, quanto mais velho mais se revigora”.

É lamentável que o poder político brasileiro não tenha vocação marítima. A escassez desse tipo de mentalidade emana da falta de consciência da potencialidade do país, da identificação errônea de prioridades para os objetivos nacionais permanentes e, sobretudo, de uma incorreta percepção qualitativa da necessidade de se alcançarem tais objetivos.

O povo respeita e enaltece a Marinha, porque ela tem um compromisso com o futuro do Brasil; o Brasil que deseja ser sério, o Brasil honrado, o Brasil do Navio Hidrográfico Sirius. O navio, todos os seus comandantes e todas as suas tripulações, em todos os tempos, merecem nossos efusivos cumprimentos pela data e os votos de que tamanho empenho, tanta dedicação e o eterno compromisso com a pátria não terão sido em vão.

28/01/2008