sexta-feira, dezembro 28, 2007

MILLÔR



RESUMINDO MINHA DÉCADA DE 20 ANOS


JANEIRO

Diante de todos os IOPs, BLOQs e CPMF, que chegam pelos extratos bancários, todo mundo vira leninista: "O QUE É UM ASSALTO A UM BANCO DIANTE DE UM BANCO?"

FEVEREIRO

No Rio passa a se chamar bala perdida toda bala encontrada.

MARÇO

O governo Bush manda pintar a Casa Branca para acompanhar os novos tempos.

ABRIL

Lula realmente não pretende um terceiro mandato. Seu sonho, todos sabem, é ser rainha da Inglaterra.

MAIO

O Congresso continua a afirmar que toda a culpa é da imprensa.

JUNHO

Roberto Jefferson bota a boca no trombone e salva a República (é república, pois não?).

JULHO

No combate à anorexia o Ministério da Saúde (no Brasil deveria ser chamado da Doença) passa a exigir taxa de embarque de todos os gordos – ocupam mais lugar nos ônibus e nos aviões. Aliás, no mundo.

AGOSTO

A superpopulação chega ao Brasil.

SETEMBRO

Os costumes, graças a Deus, tornam vigente nossa mais bela frase sacroerótica.

OUTUBRO

Gigantesca nuvem de gaivotas cobre a paisagem de Ipanema.

NOVEMBRO & DEZEMBRO

E ISSO É ISSO

Meus bons amigos, meus fiéis – e infiéis também, por que não? – leitores, membros desta pequena seita de alfabetizados infiltrados nestes 150 milhões de adeptos de outros tipos de comunicação, meus irmãos – meus inimigos também –, meus afetos-desafetos, minha esperança viva: é com profundo sentido de funemerência que eu me esvaio e também me coagulo nesta emergência cáustica de uma data nem sequer explícita. Jingle bell pra todos, na hemorragia dissonante desta ocasião meretrícia onde diabéticos princípios e esquálidas determinações se encontram para a frutificação nostálgica de velas e permanganatos imolados nas árvores outrora viscerais, hoje inconstantes, no mais profundo de nossos corações amantes – amantes? – equidistantes uns, e divagantes outros, na hora da putrefação do nosso sempre bem-amado ecossistema. Olhem bem nos olhos dos que os têm abertos nesta noite milenar, e nem por isso dórica, e verificarão estarmos diante de mais um marco da fraternidade apreensiva, diante da pungência exemplar dos que acreditam nos tubérculos como finalidade única da nossa agricultura. Mas não serei eu que me demorarei demais neste espaço, que é curto, e neste tempo, que é breve. Nem tentarei coonestar a rapacidade natural dos mais velhos, mas vocês concordarão quando eu disser que, nesta noite, mais do que em todas as outras – o que é mesmo que eu queria dizer? –, ah, sim, não se esqueçam do presente da mamãe, mas também não deixem a vovó comer toda a rabanada.