domingo, novembro 25, 2007

DORA KRAMER Sem o cheque, resta o choque

A conversa sobre CPMF dentro do PSDB hoje se dá nos seguintes termos: o que é mais vantajoso para o partido, eleitoralmente falando, ajudar a aprovar a prorrogação do imposto e não arriscar corte de verbas para os governos dos Estados administrados pelo partido, ou trabalhar para acabar com ele agora, obrigando o presidente Luiz Inácio da Silva a fazer um ajuste radical nos gastos do governo?

No momento, prevalece a segunda hipótese em substituição à primeira, preferida pelos governadores do partido e que foi preponderante quando a CPMF chegou ao Senado e começou a ser negociada com o PSDB pelo governo, que deixou de lado a própria base de apoio.

Em determinado momento, parecia que o acordo estava selado. Os tucanos, no entanto, recuaram, disseram que o governo não ofereceu compensações tributárias relevantes e se juntaram ao Democratas na oposição à CPMF.

Mas não se pode dizer que a mudança de posição seja unânime. Há divisão interna a respeito.

Os governadores, favoráveis, têm dois tipos de comportamento: uns são mais veementes, como Cássio Cunha Lima e Teotônio Vilela Filho, e outros, como Aécio Neves e José Serra, recuaram para uma posição de dubiedade estratégica. Pararam de defender abertamente a CPMF, mas ainda não aderiram à tese de que há vantagem político/eleitoral no fim do imposto.

Já os senadores e deputados - a parte mais visível do partido -, com o apoio de Fernando Henrique Cardoso e Geraldo Alckmin, são contrários.

Acham melhor a CPMF acabar agora do que em 2010. A idéia, aparentemente, contraria a lógica de quem pretende, naquela data, estar na condição de partido do presidente eleito e, portanto, dependente dos bilhões de arrecadação da CPMF.

O raciocínio pragmático em vigor, porém, é outro: se o imposto fosse extinto agora, o presidente Lula seria obrigado a fazer uma pesada contenção de gastos e entregaria ao sucessor o governo com suas despesas já ajustadas à ausência da CPMF.

Com o imposto, acreditam, Lula gastará a rodo, deixará o País "arrebentado" e o próximo presidente com a tarefa inglória de tampar os rombos e governar numa situação difícil, o que facilitaria os planos de uma volta de Lula em 2014 "como salvador da pátria, um exemplo de bom administrador, na comparação".

O cálculo, evidentemente, é todo sustentado no pressuposto de que o PSDB conseguirá eleger o presidente da República.

Nesta hipótese, haveria um outro complicador. Em 2010, os tucanos, se vencedores, teriam eles a responsabilidade de conseguir nova prorrogação do imposto, mas aí já com o PT na condição de oponente e a sociedade ainda mais propensa a rejeitar a CPMF que, se hoje já não agrada, muito menos daqui a três anos.

A despeito da posição formal dos governadores, para efeitos de votação no Senado - que é o que interessa - prevalece esse raciocínio sustentado no cálculo político/eleitoral.

Ponto fraco

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não disse nada de extraordinário ao defender que governantes sejam os primeiros a prezar a educação - "a começar pela própria" -, no mínimo, falando direito o português.

Mas o culto à ignorância como suposto fator de identificação popular é tamanho que a declaração foi considerada ofensiva.

Em País onde a defesa do idioma é tida como crime de lesa-autoridade por uns e manifestação de esnobismo por outros, realmente, há muitas léguas a percorrer.

Quo vadis?

Quinta-feira, logo que chegou a notícia de denúncia contra Eduardo Azeredo ao auditório onde se reunia o PSDB em congresso para discutir seu futuro, uma voz entre o público ponderou: "Não adianta discutir para aonde vamos sem saber onde estamos nem explicar onde estivemos."

O gato comeu

Não que esteja fazendo falta, mas onde anda mesmo o senador Fernando Collor de Mello? No primeiro semestre apareceu no Senado para acusar a instituição de "leviandade" por sua condenação há 17 anos, fez meia dúzia de pronunciamentos sobre meio ambiente e tirou licença, passando o cargo ao primo Euclydes Mello, para "fazer palestras pelo País".

O projeto de emenda que está pronto para entrar na pauta da Comissão e Constituição e Justiça põe fim ao atual sistema de suplência e obriga o eleito a exercer o mandato. Ou, então, renunciar.

Agonia

De novo está marcada a retomada do exame do processo contra o presidente do Senado licenciado, Renan Calheiros. É na próxima quarta-feira, com a apresentação do parecer do relator, Arthur Virgílio, líder do PSDB.

Tucanos e democratas podem se estranhar. O DEM é favorável à postergação para evitar a absolvição, mas não confia na capacidade de resistência dos tucanos.