quinta-feira, setembro 27, 2007

Clóvis Rossi - Walfrido, quero o meu




Folha de S. Paulo
27/9/2007

Descobri o caminho para realizar o sonho de ser setorista da "Champions League", o campeonato europeu de clubes, o mais importante do mundo: basta pedir ao ministro Walfrido dos Mares Guia os mesmíssimos R$ 500 mil que ele emprestou ao hoje senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG).
Com esse dinheiro, dá para passar na Europa os seis meses que dura o torneio e ainda levar o Rodrigo Bueno, que já se ofereceu para me acompanhar e é quem de fato entende dessas coisas.
Se sobrou algum leitor capaz ainda de abismar-se com absurdos, logo gritará: Ei, mas você está se vendendo. Sim, é disso que se trata. Emprestar dinheiro a alguém e não cobrar jamais é comprar esse alguém. Tomar dinheiro emprestado, afirmando com todas as letras que não pagou nem vai pagar, é vender-se. Ponto.
Walfrido dos Mares Guia já disse que não vai cobrar (afinal, é rico o suficiente para dispensar uma ninharia como R$ 500 mil). E Eduardo Azeredo acaba de dizer à Folha que não vai pagar.
Estamos, pois, ante uma operação de compra e venda. O notável é que ela não desperta emoções. Fica todo mundo discutindo se foi caixa dois ou mais que isso, o que é importante e necessário discutir, criticar, o diabo. Mas caixa dois ou uso de dinheiro público para benefícios privados se tornou tão comum na política brasileira que quase, quase, provoca bocejos.
O caso dos R$ 500 mil é que parece novidade. Ao menos parece novidade vendedor e comprador admitirem a operação sem nenhum constrangimento, como se fosse natural na vida pública.
Se eu de fato recebesse, para jamais pagar, R$ 500 mil de Walfrido dos Mares Guia (ou de qualquer outro mecenas), a contrapartida óbvia seria ou falar bem dele ou, no mínimo, não criticá-lo.
Qual é a contrapartida na doação a Eduardo Azeredo?