| Cristiane Agostine e Samantha Maia |
| Valor Econômico |
| 27/7/2007 |
Em meio a elogios sobre a indicação de Nelson Jobim para cuidar da crise aérea, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), criticou as propostas de abertura de capitais da Infraero e de construção de um novo aeroporto no Estado. Para o governador, essas soluções propostas pelo governo federal são "escapistas" e não resolverão a crise aérea brasileira. Na análise de Serra, a Infraero não pode trabalhar com critérios de investimento privado. Entretanto, avaliou, o governo tem orientado a empresa a seguir o caminho oposto, no sentido de fazer as obras no setor de aviação sob os "interesses comerciais", ligados à lógica do capital privado. "Acho que a idéia de abrir capital da Infraero para capital privado é um escapismo", disse ontem. "Tem uma crise, o sujeito não tem o que falar e vem com bobagens dessa natureza, porque privatizar a Infraero não vai resolver rigorosamente nada. Pode dar um dinheirinho no início e vai perder dinheirinho depois porque vai ter que remunerar os lucros." A idéia de construir um novo aeroporto em São Paulo, anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na semana passada, também foi alvo de críticas do governador paulista. "A proposta de fazer um novo aeroporto é uma proposta escapista; se a gente for de escapismo em escapismo, o problema vai continuar. Ou seja, nós temos que nos debruçar em medidas concretas, de médio e curto prazo . O ministro terá muito o que fazer para arrumar a área federal nesse sentido", afirmou. O governador tucano tem uma boa relação com Nelson Jobim e pretende fazer com que a sua opinião tenha um peso maior na definição das ações do ministério no Estado. Ontem, não deixou de fazer elogios publicamente ao ministro. "Ele é uma pessoa que examina problema com profundidade. É um homem que tem autoridade e sabe exercer o comando. Portanto, eu tenho muita esperança no trabalho que ele venha fazer." Hoje, o ministro terá um encontro com Serra em São Paulo. Jobim fará uma vistoria em Congonhas e no Instituto Médico Legal, que está fazendo a identificação das vítimas do acidente. Ao ministro, Serra deverá cobrar investimentos para os aeroportos de Congonhas, Viracopos e Cumbica e defender a reestruturação da Anac. " Eu acho que tem que refazer a Anac. A Anac é uma entidade importante despreparada obviamente, muito vulnerável às pressões das empresas de transporte do setor", disse ontem, em entrevista. "Acho que tem que haver uma reformulação institucional, inclusive com maior peso do Ministério da Aeronáutica. " O governador do Estado conversará também com Jobim sobre uma participação federal no projeto do trem expresso Aeroporto, que ligará a região central da cidade de São Paulo ao aeroporto de Cumbica, em Guarulhos. "A linha de trem é viável com uma participação federal, com a participação do Estado e com a participação da iniciativa privada. Nós podemos fazer essa linha para Guarulhos, se houver esta participação. Se todos entrarem com recursos, o Governo do Estado está disposto a participar dessa, e da linha que poderia vir de Viracopos. A obra não deve se restringir a São Paulo, mas deve ser mais ampla para conectar aeroportos", disse Serra. Apesar da expectativa de entrada do novo "sócio" no projeto, o governo estadual reafirmou que o edital estará pronto para início da licitação em setembro, e caso não haja nenhum entrave, como questionamentos dos empresários sobre a modelagem, será possível assinar um contrato em abril de 2008. O expresso aeroporto sairá da Estação da Luz, no centro da capital paulista e seguirá direto a Cumbica. As empresas aéreas têm interesse em utilizar o espaço disponível na Estação da Luz para realizar o check-in dos passageiros e despachar as bagagens. A negociação com o governo federal, entretanto, não será fácil. Ontem, o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, informou que o governo federal está estudando alternativas para facilitar o acesso aos aeroportos de Cumbica e de Viracopos, em Campinas, mas descartou uma parceria com o governo paulista. Segundo Nascimento, há uma negociação com a Agência Nacional de Transportes Terrestres medidas de iniciativa federal, que devem ser anunciadas na próxima semana. |