sábado, julho 28, 2007

Marcador sanguíneo mede a gordura abdominal

Cerco à barriga

Há uma novidade em gestação no ataque
à gordura abdominal, a mais perversa de
todas: um exame de sangue capaz de medi-la


Paula Neiva


Montagem sobre foto Mauricio Lima/AFP
Orlando, do handebol
uruguaio: cuidado com
a silhueta de maçã, muchacho


É recente a descoberta de que a gordura abdominal é a mais nociva à saúde – está associada a um aumento nos índices de infartos, derrames e alguns tipos de câncer, como o de mama e o de intestino. Faltava, no entanto, uma forma precisa de medir o acúmulo de adiposidade no abdômen para, a partir desses dados, dimensionar a extensão do risco de cada um. À exceção de exames de imagem (e, convenhamos, não é razoável submeter-se a uma tomografia para comprovar que a barriga de chope está além do saudável), a medicina dispõe unicamente da fita métrica. Para os homens brasileiros, a circunferência da cintura deve manter-se em 94 centímetros ou menos e, para as mulheres, em até 80 centímetros. "O problema é que os exames de imagem são muito caros e a fita métrica, apesar de ideal para o acompanhamento clínico, é imprecisa para uma avaliação científica", diz o endocrinologista Freddy Eliaschewitz. A grande novidade nesse quesito é a descoberta de um marcador sanguíneo capaz de determinar exatamente quanto alguém carrega de gordura na região abdominal. O uso clínico desse marcador, acreditam seus descobridores, começará em breve.

Médicos das universidades Harvard, nos Estados Unidos, e Leipzig, na Alemanha, verificaram que as taxas de uma determinada substância no sangue, a proteína RBP4, são diretamente proporcionais à quantidade de tecido adiposo estocado na região visceral. Isso ocorre porque a RBP4, cuja função é o transporte de vitamina A pelo organismo, é produzida pelas células de gordura. Apesar de não se saber a razão, os pesquisadores observaram que as células de gordura do abdômen produzem muito mais RBP4 do que as localizadas em quaisquer outras partes do corpo. Por meio de um simples exame de sangue, portanto, será possível estabelecer uma relação direta entre a proteína e a gordura visceral. A nova técnica poderá ser útil também para avaliar a ação de medicamentos e outros tratamentos contra a obesidade abdominal – caso, por exemplo, do rimonabanto, o comprimido antibarriga lançado neste ano no Brasil.

O acúmulo de gordura na barriga, que dá contornos de maçã à silhueta, é extremamente deletério. Pessoas com esse perfil, como o jogador Orlando Buquet, da seleção uruguaia de handebol (1,68 metro de altura e 109 quilos), sensação dos Jogos Pan-Americanos do Rio, estão sob risco maior também de padecer de doenças como diabetes e hipertensão. A ciência da nutrição agora se dedica a descobrir quais são os alimentos que mais favorecem o depósito de gordura no abdômen. Foi somente no ano passado que os pesquisadores constataram que, além de entupir artérias, a banidíssima gordura trans favorece o acúmulo da visceral. Há alguns meses, a revista científica americana Diabetes Care trouxe finalmente uma boa notícia: dietas ricas em gordura monoinsaturada, como o azeite de oliva extravirgem, evitam o peso extra na região abdominal.

RISCO MEDIDO

• A proteína RBP4, responsável pelo transporte de vitamina A no organismo, é a chave do novo marcador

• Por ser a proteína produzida pelas células de gordura, suas concentrações são maiores em quem tem mais tecido adiposo na região abdominal

Fonte: Freddy Eliaschewitz, endocrinologista