Tudo indica que os pilotos do TAM 3054 erraram ao operar os manetes (alavancas que controlam as turbinas), como admitiu serenamente à CPI do Apagão Aéreo o brigadeiro Jorge Kersul Filho. Ele sabe, porém, que isso é pouco para jogar toda a culpa numa falha humana. E eu pergunto: e a Airbus? A TAM? O governo? A Airbus já deveria ter melhorado reversos, manetes e manuais há muito tempo, além de impedir que aviões com o reverso travado pudessem continuar voando por dez dias. Houve o primeiro acidente, o fabricante não fez nada. Veio o segundo, também não. O do 3054 foi o terceiro. Qual será o próximo? A TAM foi com muita sede ao pote depois da quebra da Varig, impondo um verdadeiro pinga-pinga a suas aeronaves e a seus pilotos, reduzindo ao mínimo o tempo de manutenção e de permanência em solo entre uma escala e outra. Os passageiros sofrem overbooking. Pilotos e comissários, estresse. O governo deixou o setor aéreo se degradar assustadoramente, em especial depois da queda do Gol 1907 em 29 de setembro de 2006 -um marco macabro. Companhias, controladores, Infraero e Anac fazem o que bem entendem -e não se entendem entre si. Congonhas operava acima do limite. A pista foi devolvida sem as ranhuras. O desastre do TAM 3054 repete a regra, como não cansa de repetir Kersul: certamente foi uma seqüência de falhas humanas, materiais, operacionais. Um fator foi sinistramente se somando a outro e a outro até produzir a tragédia. Se o reverso não quebrasse, se a Airbus não liberasse vôos mesmo assim, se a TAM tivesse rigor na manutenção e no treinamento de pilotos, se o governo e a Anac fiscalizassem devidamente, se a pista tivesse mais de 1.940 metros e área de escape... talvez Kleiber Lima e Di Sacco tivessem tido tempo e margem de manobra para salvar 200 vidas. Inclusive as próprias. |