domingo, abril 22, 2007

China diversifica e olha para o Brasil

Alberto Tamer*

O crescimento do PIB chinês de 11,1% no trimestre não surpreendeu, pois é cedo para avaliar os efeitos das medidas restritivas do início do ano. Analistas não esperam que esse resultado vigoroso se repita, mas são cautelosos. Os investimentos podem ser contidos, mas, com o aumento das exportações e da demanda interna (principalmente, o boom imobiliário), há muito dinheiro. As empresas estrangeiras que se instalaram no país também apresentam lucros enormes, atraindo mais investidores. Ninguém compete com a China na atração de recursos, com os seus juros, mão-de-obra, nova infra-estrutura e agilidade administrativa.

A China está preocupada com sua grande dependência das importações americanas. Representantes do governo reconhecem que ela existe e incomoda. Vamos ao números.

1 - As importações do EUA representavam no ano passado 31% das exportações chinesas.

2 - Nos últimos meses, a China iniciou um intenso movimento para diversificar suas vendas e conseguiu reduzir essa dependência para 27% em fevereiro. Mesmo assim, essa participação voltou a crescer.

A DIVERSIFICAÇÃO É UM FATO...

As empresas sediadas no país estão diversificando suas vendas. Neste ano, a China superou os EUA como principal exportador para a União Européia. No segundo semestre, deverá deslocar os EUA como segundo maior exportador mundial, com mais de US$ 1,1 trilhão, atrás apenas da Alemanha. Entre os mercados alcançados pelos produtos chineses estão países como a Rússia, a Índia e o Brasil. As vendas para esses países dobraram nos últimos anos e já representam 32% do total. A produção industrial chinesa está crescendo à taxa de 14% e não há mercado interno para absorvê-la. O caminho é exportar e acumular já “incômodas” reservas acima de US$ 1 trilhão.

... E NÓS ESTAMOS NA MIRA

No movimento de diversificação, a China olha para o mercado brasileiro. Em 2006, tivemos um superávit de US$ 410 milhões, que nos dois primeiros meses do ano se transformaram num déficit de US$ 51 milhões, em 12 meses, o primeiro desde 2000, como acentua a repórter Raquel Landin em reportagem de quarta-feira no jornal Valor Econômico. No primeiro trimestre, as vendas da China ao Brasil aumentaram 50%. Estima-se que o déficit brasileiro com esse país deverá ficar em US$ 1,5 trilhão.

“A vida não vai melhorar. Só vai ficar mais dura”, afirma à colega do Valor Ernesto Heiznam, presidente do Conselho da Embraco, que está na China.

E O QUE FAZER?

Abrir os olhos, criar condições mais favoráveis para exportar e ser mais agressivos nas vendas para a China. O Brasil ainda está de olhos fechados para o leste asiático, onde começa a formar-se um bloco comercial de proporções próximas à União Européia. Estamos falando de um bloco com um PIB de US$ 10 trilhões que acumula reservas cambiais de US$ 3 trilhões. Deixar que eles venham para o Brasil e desalojem a produção nacional ou ir conquistar uma parte do seu mercado? Afinal, o que estamos esperando? Os americanos e os europeus já estão lá. Vamos? Há tempo ainda, pois é um mercado em criação, inesgotável. Mas o que é fácil diante de um governo que ainda não descobriu as riquezas decorrentes da exportação como um dos fatores básicos de crescimento?

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